Nº 65

 “Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito”.
Cardeal de Retz

           Prezados leitores-amigos,

           Denominei o Desmonte nº 63 (03/MAI) de “Um divisor de águas?”, referindo-me à abertura da CPI no Senado, à época. Na ocasião, indiquei que “sempre pode surgir [na CPI] alguma declaração mais bombástica  que pegue o governo no contrapé”.

Os  últimos acontecimentos permitem excluir a interrogação acrescentada àquele título. De fato, na explosiva (histórica?) sessão da CPI que teve lugar no último dia 25,  o  deputado Luis Miranda, ao depor, afirmou que, por ocasião da denúncia que fez ao presidente Bolsonaro sobre as graves  irregularidades em curso no Ministério da Saúde com respeito à compra de vacinas indianas Covaxin, Bolsonaro citou explicitamente o  líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, como o responsável por tais atos criminosos. Vale destacar que, na ausência de providência imediata do presidente visando apurar os fatos, tudo indica ter ele cometido crime de prevaricação. Três  senadores já encaminharam uma notícia-crime ao STF, a respeito. A crise assume novo patamar.

Considero que passa a ser uma questão de intensidade e amplitude da reação da opinião pública, nas próximas manifestações (a próxima antecipada para o dia dia 3 p. v.),  a instauração de um processo de impeachment, vencida a resistência do presidente da Casa – o deputado   Arthur  Lira, pela maioria dos deputados (incluindo os do Centrão), pressionada pela opinião pública.  . Aliás, como sabido, é proverbial o alinhamento do tal Centrão aos ventos da conjuntura. Não por outra razão, Luis Miranda já indicou que vários parlamentares de tal bloco já cogitam mudar de posição (“Luis Miranda diz que ‘vários do Centrão falaram que estão preparados para abandonar o barco’”). Gilberto Kassab, presidente do PSD (35 deputados e 15 senadores)  também cogita de tal alternativa (“Kassab já sinaliza pular do barco de Bolsonaro: ‘caso Covaxin é muito grave’”).

          Um fator que não deve ser menosprezado é a adesão crescente às manifestações de parentes/amigos dos mais de 513 mil mortos pela Covid, ,mormente após as projeções feitas na própria CPI, onde a Dra. Natalia Pasternak, citando dados enviados pelo epidemiologista Pedro Hallal,  afirmou aos senadores que “três de cada quatro mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média de controle mundial da pandemia”. Para a catástrofe certamente contribuiu poderosamente o posicionamento de  Bolsonaro, que encampou inicialmente a estratégia de “imunidade de rebanho por contágio”, desprezou o uso da máscara e a importância do distanciamento social e defendeu com muito empenho (de fato, ainda o faz!) o uso de  cloroquina e outras drogas inócuas  Chegou a atrasar a aquisição de vacinas e o fornecimento delas pelo Butantã.

A atual conjuntura marca a situação de maior fragilidade do governo, desde sua posse. Mas, atenção!, o momento não é só de júbilo por parte dos homens de bem deste País. Sentindo-se muito acuado, aumentam as possibilidades de que Bolsonaro, obedecendo a seu temperamento  e coerente com anteriores posições de desprezo à vida[1], tente um golpe de estado, açulando a parcela armada que lhe é simpática, mormente polícias militares e milicianos mas também e infelizmente, parcela do próprio EB. A perspectiva, portanto, é de crise crescente  no futuro próximo.

 Ao final assinale-se outro escândalo  em gestação: a compra da vacina chinesa CanSino,. no total de 60 milhões de doses, a um preço ainda maior que o da Covaxin, negócio (negociata) que envolve R$ 5,2 bilhões. Ver notícia ao final do Anexo.

Ao agradecer gentis colaborações recebidas de amigos, renovo a sugestão de que este documento seja lido parceladamente, função do maior interesse de cada um pelos assuntos abordados no anexo.

Aceitem o abraço cordial de 

                                     Luiz Philippe da Costa Fernandes

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[1] -A mais chocante de todas ocorreu quando Bolsonaro, então  deputado federal,  disse que, para mudar o Brasil era preciso uma ‘guerra civil’, ‘fazer o trabalho que o regime militar não fez,  matando uns 30 mil’ e, ‘Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.’”

ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº  65

1 Pilulas de um governo patético!” – [título meu] –   datas diversas.

  • – “Gabinete paralelo” de Bolsonaro o orientou a ter ‘extremo cuidado’ com vacinas e estimulou tratamento precoce” – 04 JUN. “Imagens mostram o virologista Paolo Zanoto, a imunologista Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra em reunião com Jair Bolsonaro para tratar da pandemia, de vacinas e da hidroxicloroquina.”

  • – “Na contramão do mundo, Bolsonaro extingue estatal de tecnologia fabricante de chips” –  04 JUN.
    “Enquanto países como China e Estados Unidos disputam protagonismo no setor, Brasil fechará sua fábrica de chips, a Ceitec.    Em meio a uma crise mundial na produção de chips e semicondutores, o governo de Jair Bolsonaro resolveu extinguir a única fábrica desses componentes do Brasil, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), inaugurada pelo ex-presidente Lula, em 2010.”

  • – “Líder do governo ameaça não cumprir decisões judiciais– 08 JUN.
    “O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros … criticou … o poder Judiciário e disse que chegará um momento em que as decisões judiciais ‘simplesmente não serão mais cumpridas’. A ameaça de desrespeito às decisões judiciais foi feita ao comentar a determinação do … STF para que o governo realize o censo demográfico em 2022 …  Em [ocasião anterior] o parlamentar defendeu a contratação de parentes de políticos para cargos públicos, o nepotismo. A prática foi proibida pelo STF em 2008 …”.     
            Certamente, o líder do governo na Câmara não faria tais declarações se não estivesse autorizado (fosse incentivado?) a fazê-las. A que ponto chegamos! Em tempo: esse foi o deputado “lembrado” por Bolsonaro, como responsável pela prática de corrupção no Ministério da Saúde (vacinas indianas,) ao receber denúncia a respeito do deputado Luis Miranda e irmão.
  • –  “’Fuga de cérebros’ para os EUA cresce 40% sob o governo Bolsonaro”  –  09 JUN.
    “Desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, em 2019, o número de trabalhadores qualificados que tentam deixar o Brasil quase que dobrou. Reportagem da Folha de S. Paulo mostra que os EUA são os mais procurados por brasileiros, seguido de Portugal”
  • “Bolsonaro diz que estará ao lado das Polícias Militares ‘aconteça o que acontecer’”  –  13 JUN.
    “’Vocês (policiais militares) são auxiliares das Forças Armadas. Tenho certeza que, pelo cumprimento da lei e da ordem, pelo cumprimento de dispositivos constitucionais, nós estaremos juntos aconteça o que acontecer’, disse Jair Bolsonaro”. 
     Só não vê quem não quer ...
  •  – “Pela terceira vez consecutiva, área desmatada da Amazônia bate recorde –   17 JUN. 
    “ … foram detectados 1.125 km² de desmatamento na Amazônia Legal em maio deste ano. A área corresponde quase ao tamanho do Município do Rio de Janeiro. É o maior número da série histórica para o mês de maio dos últimos dez anos.”

  • – “Fontana propõe projeto de lei para mudar regra do impeachment” – 20 JUN.
    Pela proposta, um terço da Câmara poderá apresentar requerimento diretamente ao plenário da Casa, uma única vez por ano.” 
      Na conjuntura, chance zero de aprovação. Mas fica a semente ... Uma lei como essa é muito necessária. É absurdo que mais de 110 diferentes pedidos de impeachment possam ser barrados discricionariamente, por um único parlamentar!
  •   – “Bolsonaro busca um pretexto para a convulsão social, diz Merval Pereira ”  –  22 JUN.
    “’A CPI da Covid está chegando perto de uma possível negociata em torno da compra de vacinas e cloroquina, e Bolsonaro reage. É tresloucado um presidente da República de país democrático advertir publicamente que uma ‘convulsão social’ poderá ocorrer se uma de suas vontades não for satisfeita, a aprovação do voto impresso’”, escreve o jornalista Merval Pereira ….’A alegação de que é preciso armar a população para que ela se defenda de governantes ditatoriais vai ganhando configuração perigosa quando se vê o trabalho contínuo de Bolsonaro para desmoralizar as instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF), que podem barrar suas pretensões ilegítimas’, diz ainda o jornalista. ‘Tudo são pretextos para o objetivo final, perpetuar-se no poder’, aponta.”    
                           
  •  – “ONU adverte que nova lei antiterror de Bolsonaro é ensaio de ditadura”  –   23 JUN.
     
    “Sete relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) enviaram uma carta ao governo Jair Bolsonaro afirmando que projetos de lei apoiados pela base governista no Congresso para reformar a lei antiterrorista ameaçam silenciar críticos e oposição, criminalizar movimentos sociais e greves, além de restringir liberdades fundamentais [e pedindo]. … que as autoridades brasileiras reconsiderem o projeto. Se a proposta for aprovada, o Brasil estará violando o direito internacional, afirmou a instituição, …O projeto tem como objetivo …  Ampliar atos tipificados como terrorismo, permitir a infiltração de agentes públicos em movimentos e a autorizar operações sigilosas”.

  •   – “Em editorial, o Globo conclama as Forças Armadas a resistirem à ‘infiltração’ de Bolsonaro”  –  27 JUN.
    “De todas as sequelas que o governo Bolsonaro deixará para o Brasil consertar no futuro, a mais insidiosa talvez seja a infiltração das Forças Armadas no governo”, afirma O Globo …  lembrando que passam de 6 mil os militares em funções civis na máquina do Estado. O risco do envolvimento de militares da ativa em postos de natureza política é óbvio. Basta lembrar o caso do general Eduardo Pazuello, cuja gestão como ministro da Saúde foi pautada pela mistura de inépcia, irresponsabilidade e ignorância … Pazuello não é o único militar investigado pela tragédia da pandemia. Um coronel assinou sem licitação contratos obscuros de R$ 30 milhões para reformar prédios. Um tenente-coronel é o pivô da operação suspeita para a importação da vacina Covaxin … . E por aí afora.”

2 – “A anarquia militar de Bolsonaro”  – Elio Gaspari – Folha de São Paulo   –  01 JUN. 

“O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a necessidade de punição do general Eduardo Pazuello dizendo que é preciso ‘evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças’. Santas palavras. … A má notícia é que hoje a anarquia militar tem um pé na delinquência civil, para dizer o mínimo. … Nenhuma crise militar do século passado teve PMs, muito menos conexões com milicianos … Não passava pela cabeça dos generais do século passado conviver com a ideia de PMs amotinados. Em 1961, quando policiais militares de São Paulo rebelaram-se, o comandante da tropa de São Paulo, general Arthur da Costa e Silva, acabou com o levante no grito e prendeu os indisciplinados…. Cenas como as da ação da PM no Recife no último domingo são um aviso de que a anarquia pode vir de baixo. Os disparos de balas de borracha contra manifestantes foram uma clara provocação anárquica, porém deliberada. Hoje esses personagens existem e são um fator relevante na desordem política e administrativa existente no país. A anarquia militar de Bolsonaro é nova, e pior.”.

  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2021/06/a-anarquia-militar-de-bolsonaro.shtml     

Espero que essa situação lamentável e crítica esteja sendo devidamente acompanhada pelos órgãos de informação do EB.

3 – “Rancor de militares terá frutos contra Bolsonaro” Cristian Klein  – Valor  –  07 JUN. 

Especialista … alerta que o modelo agora é o ‘golpe pelas polícias e pelas milícias’. …  [Segundo] o professor titular de história da UFRJ, Francisco Teixeira, … a decisão do comandante do Exército, …  de não punir … Pazuello, …  por ter participado de manifestação política em favor do presidente da República, é um ‘fato portador de futuro’. Ou seja, é um marco que ‘terá consequências que irão se multiplicar’ na relação entre Bolsonaro e os militares. …  Teixeira vê problemas à frente para o ocupante do Planalto. ‘Não foi bom para a democracia, mas diria que não é para os bolsonaristas comemorarem’, afirma. ,,, livrar Pazuello de punição ‘abriu uma brecha enorme para o bolsonarismo fomentar a politização, a indisciplina e a anarquia nos quartéis’. O episódio, diz, deixou os integrantes da cúpula do Exército ‘perplexos’. ‘Mas também gerou um sentimento de rancor e de humilhação que terá frutos’, pondera. ‘Há uma forte contrariedade tanto da ativa quanto da reserva, … porque eles consideravam que essa questão deveria ter sido resolvida no âmbito próprio deles, segundo as regras que proíbem manifestação política pelos militares’… No Alto Comando do Exército, diz, a preocupação agora é acima de tudo com a possibilidade de que cabos e sargentos passem a querer expressar suas opiniões políticas em redes sociais. Mas se Pazuello não foi punido, por uma questão estratégica, ‘alguém, em algum momento, vai ser a gota d’água’ para servir de exemplo …  O objetivo principal do comandante do Exército foi o de ‘não fazer o jogo do bolsonarismo’ e não dar motivo ao presidente para desautorizá-lo ou exonerá-lo, criando uma nova crise como a de dois meses atrás. … ‘Foi uma decisão pragmática para evitar nova demissão e furar o balão dessa conspiração’, resume …  Teixeira reconhece que o general Paulo Sérgio, o Exército e a democracia não saem bem do episódio, … Nesse sentido, a cúpula do Exército se preservou como um anteparo a novas investidas, mas estaria atenta mesmo que venha a ocorrer nova troca de comandante. ‘Agora eles sabem perfeitamente com quem eles estão lidando. …  ’  Com o ressentimento gerado pela nova crise, o Alto Comando guardaria energia para responder a Bolsonaro num momento mais adequado. …  ‘O modelo de Bolsonaro não é o Brasil de 1964, é a Bolívia de 2019 e a invasão do Capitólio de Washington, em 2021’, afirma, numa referência a tentativas de golpes baseadas na atuação ou na inação das polícias. … mais do que uma quartelada ao estilo clássico, … o presidente trabalha para corroer a unidade dos militares para que eles não o atrapalhem em seu projeto autoritário, de não aceitar o resultado eleitoral em caso de derrota em 2022. … ‘O Bolsonaro não precisa que as Forças Armadas deem o golpe. Precisa que elas fiquem no quartel. Para criar o tumulto, ele vai utilizar as polícias militares, para que, com sua extrema violência e truculência, derrubem os governadores, massacrem a população, impeçam as manifestações … ’ ‘Agora o modelo é o golpe pelas polícias e pelas milícias’, diz, citando ainda o caso boliviano, em que a vitória do então presidente Evo Morales foi contestada por opositores cujos protestos deixaram de ser reprimidos pela polícia. No Brasil, … Bolsonaro cultiva laços com mais de 430 mil policiais militares e cerca de 350 mil guardas de vigilância privada – ‘a maioria tremendamente bolsonarista’. ‘São quase 800 mil homens. Esse é o exército miliciano do Bolsonaro. … O Exército … tem mais de 300 mil homens, dos quais apenas 70 mil com capacidade de mobilização imediata’, diz. O especialista diz que o motim de policiais militares no Ceará, …e a repressão da tropa de choque da PM de Pernambuco aos manifestantes que protestavam contra o presidente, no Recife, no dia 29, são prévias do que pode acontecer nas eleições de 2022.”

 https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/06/07/rancor-de-militares-tera-frutos-contra-bolsonaro.ghtml

         O  professor titular de história da UFRJ, Francisco Teixeira é ex-professor na Escola Superior de Guerra (ESG) e na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), onde foi orientador de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas por militares. Também é ex-presidente do Instituto  Brasileiro de Estudos em Defesa Pandiá Calógeras, órgão de assessoramento do Ministério da Defesa. A autoridade do autor do artigo explica a maior extensão do resumo feito. Mas desejo contrapor minha modesta opinião à do professor com respeito à falta de punição ao Pazuello. O que ele denomina de “decisão pragmática” eu considero simplesmente uma decisão errada e muito prejudicial ao EB e às Instituições. No meu entendimento, não havia que se fugir de nova crise. Caso viesse a ocorrer, com o afastamento/demissão do gen. Paulo Sérgio, ficaria bem caracterizado que o presidente seria o único responsável por sua ocorrência.  A solução correta, a meu ver, seria a aplicação de uma  punição cabível a Pazuello (que não poderia ser uma simples admoestação ...).  Se, como me parece provável, o general fosse desautorizado por Bolsonaro, então que  se  demitisse. Preservado estaria o seu prestígio, a autoridade do comandante do Exército e, muito  mais do que isto, restaria preservada a  disciplina e hierarquia  – bases fundamentais da organização militar. Vantagens evidentes de tal comportamento, a meu ver: a responsabilidade da nova crise cairia exclusivamente no colo de Bolsonaro e a Força Militar, sentindo-se afrontada, cerraria fileiras em torno de seus chefes diretos, tornando o golpe menos factível; o País manteria a  confiança nas FFAA como Instituições capazes de manter  o Estado de Direito contra quaisquer  arroubos golpistas de policiais  militares e milicianos. O que ora vemos em troca é o EB humilhado e a ameaça do caos criado pelo precedente aberto. Enquanto isso, Bolsonaro se pavoneia  com o  “quem manda aqui sou eu” ...

4 – ‘Não há crise; Bolsonaro obedece ao ‘Partido Militar, diz coronel” –  Raul Galhardi   – UOL  –  08 JUN.

  “A candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 foi um ‘cavalo de troia’ para os militares tomarem o poder. Agora é importante que o presidente seja tratado como um ‘estorvo’ para que a população clame por uma solução aos generais, embora seja o Exército quem controla de fato o governo. Quem afirma isso é o coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza em entrevista … . Pimentel escreveu o artigo “A palavra convence e o exemplo arrasta“, sobre o papel dos militares no governo Bolsonaro, texto que foi publicado no livro “Os Militares e a Crise Brasileira“… Segundo ele, a candidatura de Bolsonaro e o seu governo fazem parte do projeto criado pelo ‘Partido Militar’, cuja direção seria integrada por generais próximos ao presidente formados na década de 70 na … AMAN…. ‘O ex-comandante do Exército, general Pujol, e o ex-ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, foram os principais responsáveis pela ida de Pazuello e de outros militares da ativa para o governo’, diz ele…. De acordo com Pimentel, é intenção do Partido Militar fazer crer que há um conflito interno no governo entre duas ‘alas’, a ‘racional’, composta pelos militares, e uma ‘ideológica’, feita pelo chamado ‘gabinete do ódio’ comandado pelos filhos do presidente. Para ele, não haveria risco algum de golpe por parte dos militares porque eles já estão no poder. …. [A não punição a Pazuello] segundo ele, serviu para eximir os militares de responsabilidade pela má gestão da pandemia ao atribuir falsamente a Bolsonaro um poder de controle sobre as Forças Armadas, que estariam sendo ‘humilhadas’, embora sejam elas, especialmente o Exército, que detenham o controle de fato do governo….  a própria candidatura de Bolsonaro foi uma criação dos generais…. Quando a geração de Bolsonaro chegou ao posto de general, a partir de 2003, 2004, a figura dele dentro do Exército, que era de ‘estorvo’, um mau exemplo, passou a ser reabilitada.  … Eu destaco cinco fatos que balizam as causas do surgimento do Partido Militar [abordadas na sequência, no texto original] …. Aconteceu, em março deste ano, a demissão do então ministro da Defesa (general Fernando Azevedo e Silva) e dos três comandantes das Forças Armadas na época. Surgiram na mídia várias versões para essa demissão inoportuna e a que predominou foi que o presidente estaria com intenções de usar as Forças Armadas para tomar medidas que contrariariam a Constituição. … Como [os chefes militares demitidos] não falaram nada, .. qual é a mensagem que isso passa para a cadeia de comando até o soldado? Que é normal militares quererem participar da política. … Muita gente diz que Bolsonaro tenta subverter as Forças Armadas agindo sobre a base da pirâmide hierárquica e que ele estaria politizando essas camadas. No entanto, quem exerce cargos de relevância no governo são generais. São os superiores hierárquicos que se politizaram e foram para o governo. As camadas mais baixas seguem as superiores…. Interessa aos militares tratar Bolsonaro como um incendiário, porque assim a sociedade, irritada com ele, clamaria para que eles resolvam a situação, deixando-o inoperante até o final do mandato ou mesmo substituindo-o no caso de processo de impeachment…. Eles [os militares] estão manobrando para aturem em duas frentes em 2022, como ‘situação’, com Bolsonaro muito fraco e Mourão forte, ou com Santos Cruz apoiando uma ‘frente ampla’, funcionando como se fosse dissidente, mas sem ser, pois é integrante do Partido Militar e o partido é mais importante do que suas eventuais lideranças…. A não punição do Pazuello tem a finalidade de continuar construindo o papel de ‘estorvo’ do presidente e, ao mesmo tempo, reforçar a candidatura Mourão à sucessão presidencial pela situação (veja que o general declarou que Pazuello deveria ser punido) e a candidatura Santos Cruz pela ‘oposição’; continuar mantendo a narrativa de que ‘Bolsonaro estragou as Forças Armadas’ e de que o ‘Exército é humilhado’ porque o presidente teria feito o ‘comandante se ajoelhar à sua vontade’; e garantir uma ‘cortina de fumaça’ sobre a CPI para disfarçar a responsabilidade do próprio Exército – entenda-se Edson Pujol e Fernando Azevedo e Silva – pela nomeação de dezenas de militares da ativa para . cargos políticos no governo, o que os caracteriza como uns dos principais promotores dessa politização dos militares….

https://noticias.uol.com.br/colunas/coluna-entendendo-bolsonaro/2021/06/08/nao-ha-crise-militares-controlam-o-governo-diz-coronel.htm?cmpid=copiaecola   

Pode-se não concordar com todas as afirmações do coronel, mas é inegável que ele lança novos enfoques  sobre a influência dos militares na atual conjuntura do País. 

5 – “A participação de deputados e senadores em supostos crimes –  O Estado de S.Paulo  –  09 JUN. 

“Estranhamente, após cinco meses de absoluto silêncio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do inquérito que apura responsabilidades pela organização e financiamento de manifestações golpistas ocorridas em abril do ano passado, incluindo um sórdido ataque ao edifício-sede da Corte Suprema. As razões alegadas pela PGR para pugnar pelo encerramento do inquérito são frágeis e incongruentes em relação aos achados da Polícia Federal (PF) no curso das investigações. O ministro relator, Alexandre de Moraes, determinou que a PGR ‘esclareça o alcance do pedido’, mas deverá acatá-lo, haja vista que, de acordo com a jurisprudência do STF, um pedido desta natureza é ‘irrecusável’ . Mas, se não pode deixar de acatar o pedido de arquivamento feito pelo parquet, o ministro relator pode trazer à luz o minucioso esquema de desinformação e destruição de reputações que foi montado na antessala do presidente da República com o objetivo de corroer a confiança dos brasileiros nas instituições pátrias, desqualificar adversários e críticos de Jair Bolsonaro e, consequentemente, depreciar o próprio valor da democracia. E foi exatamente o que Alexandre de Moraes fez na sexta-feira passada… O que a PGR não enxergou como conjunto de indícios robustos o bastante para ‘apontar para a participação de deputados e senadores nos supostos crimes investigados’ agora vem a público pela decisão do ministro Alexandre de Moraes de retirar o sigilo do inquérito que tramita no âmbito da Corte Suprema. … a PF identificou mais de mil acessos àquelas contas inautênticas nas redes sociais feitos a partir de computadores instalados em órgãos públicos e até na residência privada da família Bolsonaro na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A polícia identificou ainda acessos a contas e páginas que disseminam desinformação e ataques ao Estado Democrático de Direito oriundos de gabinetes de deputados e senadores, e até mesmo de instalações militares. Ora, se isto não é razão forte o bastante para ensejar o prosseguimento das investigações, como pleiteia a PGR, o que seria, afinal? Ao retirar o sigilo sobre o inquérito, o ministro Alexandre de Moraes deu aos cidadãos o direito de indagar, à luz de tantos indícios que pesam sobre pessoas próximas ao presidente da República, quais seriam os reais motivos que levaram a PGR a requerer o arquivamento do inquérito, e não o aprofundamento das investigações, como deveria.”

(  https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/manifesto-contra-aras-ja-conta-com-o-apoio-de-mais-da-metade-dos-procuradores-do-mpf.html ) ou “Rebelião contra Aras( https://piaui.folha.uol.com.br/rebeliao-contra-aras/ )

 

Aliás, a atuação do Aras causa desagrado no seio da própria Procuradoria Geral da República – ver “Manifesto contra Aras já conta com o apoio de mais da metade dos procuradores do MPF.” A ver se Aras vai barrar a denúncia de prevaricação de Bolsonaro encaminhada ao STF por três senadores.

6 – Bolsonaro provou que o Exército, infelizmente, é dele”, diz Celso Amorim”  –  11 JUN.

  “Ex-chanceler comentou a decisão do Exército de não punir Eduardo Pazuello … e avaliou que o golpe já não é apenas uma possibilidade. ‘Não é sobre se haverá um golpe. Já houve um golpe. O golpe é dobrar a espinha do Exército, que deixa de ser uma instituição de Estado e passa a ser uma instituição deste governante’. …  a decisão prova que o presidente controla o Exército, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde as Forças Armadas não aderiram ao golpe instigado por Donald Trump após derrota nas eleições Aqui você vai ter confiança numa hipótese dessa? Como você pode ter confiança se na realidade o comandante do Exército aceita uma violação do regulamento e aceita passar a mão na cabeça da pessoa que violou uma regra fundamental? Isso afeta profundamente a situação. Aliás, isso tudo não aconteceu por acaso, mas foi planejado para demonstrar que o Exército, como diz o presidente, é sim o Exército dele, e não do país. Ele provou isso, infelizmente. A não ser que venha a ocorrer uma reação que a gente não sabe ainda se pode ocorrer ou não, ele terá provado que o Exército é o Exército dele’, disse. … ‘Esse cara está querendo mostrar que ele faz o que quer. Ele incentiva uma infração de um regulamento do Exército e não acontece nada.’” 

 https://www.brasil247.com/brasil/bolsonaro-provou-que-o-exercito-infelizmente-e-dele-diz-celso-amorim

Confere exatamente com o que penso a respeito. Na hora em que se abala a disciplina, fere-se de morte o estamento militar.

7- “Posições formais da Marinha e Aeronáutica dificultam pretensões golpistas de Bolsonaro” – Janio de Freitas  – Folha de São Paulo  –  13  JUN. 

“… ‘são diferentes as posições formais da Marinha e da Aeronáutica, idênticas, e a do Exército, ante os acontecimentos políticos, o governo e a própria Constituição. …  ‘esse tem sido e será ainda mais, se mantido, um fator decisivo para a sobrevivência atual e futura da custosa democracia à brasileira’. … Para todos os efeitos constitucionais, políticos e de ordem, a estrita dedicação nas duas Forças ao profissionalismo militar tem sido um empecilho ao fechamento do circuito golpista …  Na golpeada segunda metade do século passado, por uma única vez o Exército ousou agir sozinho contra o poder constituído…. Por menos que sejam conhecidas as ideias vigentes na Aeronáutica e na Marinha, e por mais que as práticas da política as desagradassem, o silêncio e a distância que mantêm são sugestões de não endosso a Bolsonaro … Com o silêncio e a distância, Marinha e Aeronáutica estão como configurações militares do regime constitucional democrático. Nunca estiveram com a história tão depositada em seus navios, seus aviões e, comprovem-na, sua dignidade.’”

https://www.brasil247.com/midia/janio-de-freitas-posicoes-formais-da-marinha-e-aeronautica-dificultam-pretensoes-golpistas-de-bolsonaro

8 – Golpe acabou com a Petrobras’, diz Guilherme Estrella”   247    25 JUN.

“’Pai do pré-sal’ crítica política para o petróleo pós-2016 e propõe a reconstrução da companhia”. “Para ele, ‘o golpe de 2016 acabou com a Petrobras’, pois ela perdeu as características de empresa estatal. … os fatores que levaram a esse desmonte [grifo meu] foram: o fim do sistema de partilha, a remoção da empresa como operadora única proposta do senador José Serra (PSDB-SP) , e o ‘decreto do trilhão’, que isentou as empresas operadoras de impostos de importação. ‘O fim do marco regulatório, que colocava a Petrobras como operadora única, rompeu com um dos pilares do que é uma empresa estatal. E ao isentar as empresas operadoras e impostos de importação, mataram o conteúdo nacional, a nossa política de desenvolvimento industrial. Deixou de ser uma empresa petrolífera no governo [Michel] Temer e este governo a transformou num fundo de investimento’, argumentou o ex-diretor. Ele disse, entretanto, que não acredita que a Petrobras seja irrecuperável. Para Estrella, desde 2016, o Brasil vive governos ilegítimos, de modo que não se pode considerar ‘os atos cometidos contra a Petrobras como constitucionais’  ‘Estamos sob um governo de ocupação civil instalado para servir aos interesses e objetivos de um país estrangeiro. Isso precisa ser revertido por meio de plebiscitos revogatórios’, defendeu. A venda de ativos estratégicos da Petrobras atenta contra a soberania nacional. … A venda da distribuidora BR, que é a nossa presença no mercado interno, não atende à Constituição de 1988. As duas coisas precisam ser revertidas’, citou. Ele também argumentou a favor da retomada do esquema de partilha e da Petrobras como operadora única, ‘apostando em conteúdo nacional, com intenção social’, dominando toda a cadeia produtiva. ‘A abertura de capital na bolsa de Nova Iorque, por Fernando Henrique Cardoso, nos prendeu a regras da bolsa e à legislação dos Estados Unidos. Precisamos sair dessa dependência que nos tira soberania de gestão da maior empresa brasileira em matéria estratégica para o desenvolvimento nacional’, reforçou. Ele lamentou que, em vez de punir os culpados e preservar a empresa, a Lava-Jato foi utilizada para destruir a Petrobras ‘e a própria soberania brasileira’. Para o ex-diretor, ‘um dos objetivos da operação era a destruição das grandes empresas de engenharia brasileira.’ … A partir daí começou o desmonte [grifo meu], segundo ele. Acabou o esquema da Petrobras como operadora única e abriram-se as portas de exploração para empresas estrangeiras, quebrando ‘um dos pilares da reindustrialização brasileira’. … Estrella … voltou a ressaltar a importância de restituir a Petrobrás como impulsionador da economia e do desenvolvimento brasileiro: ‘Todas as potências industriais mundiais construíram seu poderio industrial e tecnológico com base em energia. É um pilar para a industrialização, com gestão nacional, protegendo o mercado nacional e o consumidor brasileiro’”.

https://www.brasil247.com/economia/golpe-acabou-com-a-petrobras-diz-guilherme-estrella

Palavras do “pai do pré-sal” e uma  das vozes mais respeitadas na Petrobras (na autêntica, não nessa que está ai). Ele levanta uma possibilidade interessante para retomar os valores da Petrobras: plebiscitos revogatórios.

9 – “Mais um escândalo: governo comprou R$ 5,2 bilhões de vacina CanSino, representada por empresa de amigo de Ricardo Barros” – 247 – 27 JUN.

 O deputado federal Rogério Correia (PT) denunciou nas redes sociais, neste domingo, 27, que o governo Jair Bolsonaro pode estar envolvido em outro esquema de corrupção envolvendo compras de vacinas, além da vacina indiana Covaxin. ‘A vacina agora é a chinesa CanSino e a empresa intermediária é BelCher Farmacêutica Brasil, com sede em Maringá, terra de Ricardo Barros. Um dos sócios é Daniel Moleirinho, cujo pai é parceiro político do líder de Bolsonaro’, informou o deputado. … O contrato do Ministério da Saúde, lotado de políticos do “Centrão” em áreas estratégicas para aquisição de vacinas, tem intenção de compra de 60 milhões de doses da vacina CanSino. Segundo a CNN, o governo federal iria pagar 17 dólares por dose quer dizer, R$ 5,2 bilhões por 60 milhões de doses. O valor mais alto de todas as vacinas compradas pelo governo, incluindo a superfaturada Covaxin, 15 dólares”.

https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/mais-um-escandalo-governo-comprou-r-5-2-bilhoes-de-vacinas-cansino-representada-por-empresa-de-amigo-de-ricardo-barros

       Pá de cal no atual governo?