nº 71

Prezados leitores/amigos,

Este último Desmonte do ano apresenta o mesmo formato dos anteriores, com as “pílulas” iniciais permitindo ao leitor, em poucos minutos, relembrar as notícias mais importantes reveladoras do processo de ataque às instituições do Estado, quando não arranhando a nossa própria soberania, divulgadas no mês em curso.

Em algumas poucas transcrições selecionadas, algo mais extensas, abordam-se, a seguir,  assuntos julgados merecedores de desdobramento, pela sua importância. Nesta coletânea, inclui-se entrevista concedida pelo ex-ministro Renato Janine, que tem como mote a recuperação dos laços sociais por parte do presidente que vier a ser eleito em outubro vindouro, assunto  que, pessoalmente, me preocupa. É muito difícil, num país minimamente civilizado, o convívio político sem um mínimo de respeito.  Segue-se a apresentação dos resultados mais relevantes  do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em alimentos (PNCRC) divulgados dia 17 de novembro p.p.. Em resumo, verifica-se que uma boa quantidade de alimentos consumidos normalmente por nós todos, brasileiros, está contaminada por metais pesados, micotoxinas,  salmonella, e resíduos de agrotóxicos. Tais alimentos incluem frutas, vegetais, grãos, temperos  em uma ampla gama de alimentos consumidos diariamente. É grande ameaça à nossa saúde!

O último artigo mais expandido refere-se a um  relatório (Comment les Etats-Unis contribuent-ils à affaiblir l’économie française?), publicado, há dois meses, pela  École de Guerre Economique, renomada instituição francesa, responsável pelo premiado programa  Strategie et Inteligence Economique. Conforme os autores esclarecem, embora a analise se refira ao caso francês, tem aplicação mundial, de onde deriva o destaque aqui atribuído à matéria, De fato, ao leitor consciente do atual descalabro porque passa o País, verdadeiro desmonte, as similitudes saltam aos olhos. De fato, se nos reportarmos aos resultados da “famosa”  Lava Jato – onde o dedo de Washington já ficou  bem evidenciado –,  verificamos, com base em dados oficiais fornecidos pelo Dieese, o verdadeiro  custo  da operação: a virtual destruição de nossa indústria de construção pesada, que ameaçava os interesses das empreiteiras americanas pelo mundo; 4,4 milhões de empregos formais perdidos; perda de 3,6% do PIB nacional;  perda de R$ 172 bilhões em investimentos; queda de arrecadação de quase 70 bilhões de reais (que obscurecem quase por completo os pífios 4,3. recuperados …); redução da massa salarial de 85,8 bilhões. No campo político, se adicionarmos a ação de Bolsonaro – flagelo que se sucedeu – há que considerar-se  o criminoso combate ao Covid, que nos levou a quase aos 620 mil mortos; no campo econômico, à situação de atual recessão e alta inflação; no campo internacional, à  completa perda de prestígio (hoje somos um país “pária”, conforme apregoado com orgulho (!) no Itamaraty pelo  ex-chanceler Ernesto Araújo); uma política externa atrelada aos interesses americanos; a integração sul-americana em frangalhos etc, etc  …

Ainda bem que falta agora apenas o tempo de uma geração (nove meses) política para, pelo caminho democrático, voltarmos aos eixos. A eleição talvez se revele, fruto de várias influências, mormente externas, mais difícil do que ora indicam as pesquisas. Mas, ao final, voltaremos a ver e ter  o nosso País …

encaminhamento desta coletânea é antecipado, pois estarei ausente do Rio nos dias que se seguem, em local sem acesso assegurado à Internet. Mas a antecipação me dá oportunidade de, em tempo hábil, apresentar a todos os leitores destes Desmontes meus mais cordiais votos de um santo Natal E de transmitir-lhes a minha virtual certeza de que, no Ano Novo, ou  melhor, a partir de outubro de 2022, teremos, todos, oportunidade de considerar que tivemos realmente um novo ano feliz … 

Conto estarmos juntos em 2022. Que Deus guarde  e proteja  a todos nós!

Abraços do Luiz Philippe da Costa Fernandes

 

ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº  71

1 Pilulas de um governo patético!” – [título meu] –   datas diversas.

– “Estudo mostra processo sistemático e assustador de perseguição do governo Bolsonaro aos funcionários públicos” – 28 NOV.
  “Há quatro formas principais de perseguição: opressão física, administrativa ou moral e o silenciamento, Os métodos de perseguição bolsonarista usados contra servidores públicos que discordam dele foram esmiuçados em um estudo feito por duas pesquisadoras da FGV. … [que] … entrevistaram mais de 100 servidores públicos para conseguir montar o diagnóstico. …. A pesquisa também lista a proibição de participações em reuniões ou eventos e a perseguição ideológica devido a ideias apresentadas em reuniões de trabalho.”

– “Mesquita é invadida no Paraná e símbolos do islã são queimados – 02 DEZ
“Criminosos entraram no local, vandalizaram símbolos sagrados da religião muçulmana e chegaram a queimar o Alcorão”.

 Esta notícia deve ser considerada ao lado de outra, de mesma data, igualmente reveladora de  preconceito religioso:

– “Terreiros de umbanda são alvos de ataques no interior de SP”
“Nos últimos 90 dias, ao menos três terreiros de umbanda de Sumaré, a 120 km de São Paulo, foram alvos de intolerância religiosa”.

Novo desdobramento de intolerância bolsonarista?

– “Ao menos 20 delegados foram trocados de cargo na PF no governo Bolsonaro – 03 DEZ.
“O governo Bolsonaro já acumula ao menos 20 mudanças de cargo na Polícia Federal – todos em posição de chefia – por divergências políticas. A última troca foi a da delegada Dominique de Castro Oliveira do escritório da Interpol.  Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, outro motivo para o troca-troca na PF são investigações que desagradam o Planalto e os interesses do clã.”

 “Bolsonaro lamenta: “como é duro ser patrão no Brasil”–  07 DEZ.
“Chefe do Executivo já havia feito declaração semelhante em 2018, quando afirmou que ‘ser patrão no Brasil é um tormento’”

Vejam como sou ignorante em questões trabalhistas: até a informação do Bolsonaro acreditava que o “duro” seria  os13 milhões de desempregados passarem fome ...

Equipamentos antisseca pagos com dinheiro público ficam sem uso, estocados em depósitos do governo” – 08 DEZ
“O governo de Jair Bolsonaro mantém em estoque dezenas de cisternas, caixas-d’água, tratores, implementos agrícolas e tubos de irrigação comprados com recursos de emendas parlamentares. Essas emendas estão no olho do furacão do toma lá dá cá entre o governo e o Congresso Nacional, dominado ,,,pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. …  vários equipamentos são mantidos amontoados em depósitos  … e já dão sinais de desgaste com o tempo. Alguns desses equipamentos estão lá há mais de um ano.”

“STF declara a incompetência da vara de Bretas para julgar sete casos da ‘Lava Jato’”– 08 DEZ

“ … decisão foi tomada pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal.”

É mais um juizeco, êmulo das más práticas de Moro, que é desmoralizado ...

– “Conversas inéditas mostram que Dallagnol sabia que ‘Fundação Lava Jato’ era suspeita” – 10 DEZ. “Reportagem …  revela os esquemas espúrios da Lava Jato e do ex-juiz parcial Sergio Moro com os EUA para roubar o dinheiro do Brasil. Um diálogo inédito obtido junto aos arquivos da Spoofing, operação da Polícia Federal, … revela que o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, tinha consciência de que o acordo que ele havia assinado com autoridades americanas era suspeito, e que trazia, segundo suas próprias palavras, ‘coisas meio inexplicáveis’.

Este cidadão – o “procurador-político” (ou será mais correto “político-procurador”?) Dallagnol, recentemente rasgou a máscara e candidatou-se a um cargo eletivo, na busca pela ansiada imunidade parlamentar ...

– “Bolsonaro volta a atacar STF e adversários políticos” – 11  DEZ.

“Jair Bolsonaro volta a atacar as instituições, principalmente a Suprema Corte do país e adversários políticos. O ocupante do Palácio do Planalto mostrou irritação durante as discussões sobre o passaporte da vacinação, reclamou da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com termos chulos e voltou a desferir críticas públicas contra o STF (Supremo Tribunal Federal).

Tenho muito  receio de que, com a confirmação irremediável de sua derrota eleitoral, mais adiante., as coisas piorem muito. Teremos nova tentativa de golpe à la  “7 de setembro”?

– “Barroso diz que instituições de Estado foram aparelhadas por governos – 11  DEZ.
“O ministro Luís Roberto Barroso, do …STF, afirmou nesta sexta-feira (10) que instituições brasileiras de Estado ‘foram aparelhadas como de governo’… Barroso direciona severas críticas ao governo de Jair Bolsonaro, sem citá-lo: ‘Vivemos alguns momentos de preocupação ao longo dos dois anos, com ataques às instituições, que reagiram, mas não acho que tenham escapado sem escoriações’, afirmou.”

– “Bolsonaro já vendeu 56% dos ativos da Petrobrás” – 14  DEZ.  
“Desde março de 2015, quando teve início o plano de desinvestimento da Petrobrás, até 7 de dezembro deste ano, já foram vendidos 64 ativos e participações acionárias da estatal, somando R$ 243,7 bilhões. Mais da metade das privatizações aconteceu no governo de Jair Bolsonaro, com a negociação de R$ 138,2 bilhões, o equivalente a 56,7% do valor total. O primeiro ano do atual mandato, em 2019, registrou o maior valor de vendas anual de todo período, contabilizando R$ 74,7 bilhões, o que representa 30,6% do acumulado.”

– “Ministros do TSE decidiram dar cargo para general para evitar golpe em 2022” – 15  DEZ.
 Segundo artigo de Carlina Brígido (UOL): “Paira no tribunal [TSE] o temor de tentativa de ruptura institucional caso o presidente Jair Bolsonaro saia derrotado das urnas. Como no Brasil a realidade política não obedece à lógica cartesiana, a vacina contra o golpe foi chamar um general …o  general Fernando Azevedo, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, ocuparia o cargo de diretor-geral da Corte em 2022.”                                            

A preocupação tem um lado positivo, a saber, a adoção de  providência concreta – o convite ao general – como contraposição a uma  (nova)  possibilidade de atentado de  Bolsonaro contra a ordem constitucional. Mas lamenta-se que para tal tenha que ser convocado um general. Isto deixa à vista a fragilidade de nossa Democracia!

– “Capitão não sabe que o responsável pala Anvisa é o Almirante” – 18  DEZ.
“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da vacina da Pfizer contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade. Foi o que bastou para que o presidente Jair Bolsonaro, inimigo declarado da vacinação … partisse para a intimidação explícita dos responsáveis pela decisão da Anvisa. Em transmissão pela internet, Bolsonaro … exigiu saber os nomes de quem participou do processo para, então, ‘divulgar os nomes dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento quem são essas pessoas e obviamente forme o seu juízo’. Não é preciso ser especialista em bolsonarismo para deduzir que o objetivo de Bolsonaro, … é atiçar os cães das redes sociais a destruir a reputação profissional e arruinar a vida privada dos funcionários da Anvisa. … Felizmente, a Anvisa não se deixou intimidar. … funcionários da Anvisa vêm sofrendo ameaças de morte ‘por parte de agentes antivacina’ e … se tornaram ‘alvo de ativismo político violento’ – estimulado, como todos sabem, pelo presidente da República em pessoa. É gravíssimo.”

“ANP pede ao CADE reprovação da venda da Gaspetro” – 21  DEZ.
“A Agência Nacional do Petróleo (ANP) sugeriu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) que reprove a venda dos 51% da Petrobrás na Gaspetro para a Compass. Na avaliação da ANP, a operação não vai ao encontro dos objetivos do Termo de Cessão de Conduta (TCC) firmado … uma vez que a Compass … ‘não demonstrou sua independência com relação aos agentes que compõem os demais elos da cadeia de gás natural”. … No documento, a ANP afirma que uma ‘eventual aquisição da Gaspetro pela Compass tem como um dos principais efeitos negativos, sob a ótica concorrencial, a elevação da concentração do poder de monopsônio exercido pelas companhias de distribuição de gás canalizado no mercado atacadista de gás natural no Brasil’”.

2 – “Recuperar os laços sociais é o principal desafio do próximo presidente” Entrevista concedida pelo ex-ministro da Educação Renato Janine  – Carta Capital  – 04 DEZ. 

CC: O ódio elegeu Bolsonaro? RJ: Sim. O primeiro ponto é que tiraram uma presidente da República com acusações falsas e, a partir daí, se pode tirar qualquer um com qualquer critério. Ficar no poder não é mais prova de honestidade, como se viu com Temer e se vê com Bolsonaro. Daí vem uma espécie de atmosfera: se não existe Constituição e legalidade, e o STF não cumpre o seu papel, tudo é permitido e cada um faz o que quer…
CC: O senhor acredita que uma derrota do Bolsonaro arrefece o ódio? RJ: Há 20% da população que não só vota no Bolsonaro como afirma que não houve aumento de preço no supermercado. Votar no Bolsonaro é uma opção, mas negar um fato verdadeiro indica que há pessoas que vão longe na negação da realidade. … Se a gente tiver a eleição de um candidato democrático,… que reconstrua a máquina de estado e desenvolva políticas de inclusão social, parte do ódio vai sumir porque é abastecido por essa falta de futuro.
CC: Qual o maior desafio? RJ: … Entre nossas tarefas para o futuro está a de recuperar os nossos laços sociais e isso não será fácil. Temos um estado que foi desmontando, uma economia em frangalhos, políticas sociais revertidas e um ódio muito forte por parte da extrema-direita e também da esquerda.
CC: O Lula é um bom nome mesmo com o antipetismo ainda enraizado? RJ: O líder é capaz de motivar e mobilizar. Ele se cerca de gente mais capaz do que ele. O Lula foi brilhante nisso. Eu penso que nós vamos precisar de alguém que tenha a capacidade que vejo muito no Lula e pouco nos outros.  …. Ele tem uma inteligência emocional rara. Ele tem uma dinâmica que poucos têm.

A entrevista aborda uma situação que acho preocupante. Se o governo do País, na situação  em que será “herdada” do Bolsomaro é bem difícil, o grau de dificuldade aumenta muito se for encontrado um ambiente  em que, transcendendo a saudável oposição  democrática, seja enfrentada uma parcela da população permanentemente  raivosa.

3 – “Programa do Ministério da Agricultura revela metais pesados e agrotóxicos proibidos em alimentos” – Cida de Oliveira – Rede Brasil Atual  – 07 DEZ 

“Passou praticamente despercebida a publicação dos resultados do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em alimentos (PNCRC) por meio da Portaria do Ministério da Agricultura SDA 448, em 17 de novembro. Entre os alimentos analisados estão abacaxi, alface, alho, amêndoa, amêndoa de cacau, amendoim, arroz, avelã, banana, batata, beterraba, café, castanha de caju, castanha do Brasil, cebola, cenoura, cevada malteada, cítricos, farinha de trigo, feijão, goiaba, kiwi, maçã, mamão, manga, melão, milho, morango, pera, pimenta do reino, pimentão, soja, tomate, trigo e uva. Os resultados da análise, preliminar, apontam para um grave problema de contaminação – o que muito provavelmente explica a tentativa do Ministério da Agricultura de escondê-los. Foram detectados contaminantes em praticamente todos os alimentos analisados. E mais do que isso … agrotóxicos misturados com outros agrotóxicos e com metais pesados. E a mistura de tudo com tudo o mais. Essas combinações, aliás, incluem metais pesados acima do limite estipulado pela legislação – ou sem conformidade com ela. É o caso do alho, tanto o nacional, como o importado  … [que] apresentaram contaminação por chumbo. Ou mesmo do arroz, com 74 das 75 amostras apresentando contaminação por arsênio. O chumbo afeta o sistema nervoso central, os rins, o fígado, o sangue, o aparelho digestivo e os órgãos sexuais. Nas crianças, causa dano maior no sistema nervoso, ainda em processo de desenvolvimento … Já o arsênio … causa diferentes efeitos tóxicos. A exposição de curto prazo está associada à conjuntivite, hiperqueratose, hiperpigmentação, doenças cardiovasculares, distúrbios no sistema nervoso central e vascular periférico. E a exposição prolongada pode levar ao aparecimento de diversos tipos de câncer, como de pele, pulmão, próstata, bexiga, rim e fígado. … ‘… os resultados do PNCRC detectaram algo que já é sabido, mas nem sempre facilmente documentável, que é o uso de agrotóxicos que não são permitidos para determinadas culturas’, disse o professor … da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Marcos Pedlowsk. … Temos substâncias que são potencialmente causadoras de doenças graves, como o inseticida Acefato, banido na União Europeia por causar, entre outras coisas, a perda da fertilidade masculina, e por causar a morte de aves e espécies marinhas … .’ … desde o início do governo de Jair Bolsonaro, já são 1.507 novas liberações de agroquímicos de diferentes tipos. Algumas destas substâncias estão proibidas há mais de 20 anos nos países europeus justamente pelos males causados à saúde e ao meio ambiente. … Para o pesquisador da Uenf, os resultados globais do PNCRC deveriam estar sendo amplamente divulgados para levar à reação por parte de organizações que representam os interesses dos consumidores, bem como para orientar a ação de grupos de pesquisa e de organizações não-governamentais. ‘Afinal, o quadro que emerge dos resultados publicados em relativa surdina pelo governo Bolsonaro não é nada bom’.”

O assunto afeta diretamente a saúde pública e, como realça o professor da Uenf, não é devidamente enfatizado  junto à população. O que fazem as autoridades responsáveis? O artigo informa somente o que fazem as autoridades “irresponsáveis” que liberaram 1.507 substâncias tóxicas no atual (des)governo ...

4 – As estratégias imperiais dos EUA e como enfraquecem os outros países” – Notas sobre relatório publicado pela Escola de Guerra Económica, de Paris – Daniel Vaz de Carvalho – Aepet  – 17  DEZ.

“Em outubro de 2021, a École de Guerre Economique, uma escola superior de referência em França que tem recebido sucessivos prémios pelo seu programa MBA Strategie et Inteligence Economique, publicou um relatório intitulado Comment les Etats-Unis contribuent-ils à affaiblir l’économie française?, no qual participaram 25 académicos, sob a coordenação do diretor da EGE, Christian Harbulot. … a análise incide sobre os planos económicos, sociais e, de uma forma abrangente, também políticos. O seu interesse reside em que tudo o que o se nele se expressa, embora visando situações e casos ocorridos em França, tem aplicação global [grifos meus] Trata-se de uma aprofundada análise sobre as estratégias dos EUA, para garantirem o domínio sobre as outras nações. … As ações dos EUA são apresentadas como parte de uma ‘luta pelo bem’ tendo o objetivo de cumprir uma missão histórica (divina) pela humanidade, perspectiva que justifica o uso todos os meios. Esta visão coloca-os como uma nação à qual outros são chamados a se alinhar. … Os EUA estruturaram a ordem mundial de acordo com uma ideologia estabelecida ao serviço dos seus interesses. … o seu domínio no campo económico serviu-se da livre circulação de bens e da redução dos limites ao comércio, nomeadamente alfandegários. … Com o fim do Bloco de Leste, a OTAN deixava de ter a sua razão de ser original, mas foi reforçada pelos EUA, que a usam para o domínio militar da sua nova ‘ordem mundial’ …  mais o dólar, que passou a dominar a nível mundial o sistema financeiro do capitalismo, os EUA puderam arvorar-se em ‘policias do mundo’ (18) impondo a sua ideologia, combatendo tudo que dela se afaste. …  Estratégias informais e ilícitas … são atividades agressivas, subversivas, informais, no ambiente político, económico e informacional para maximizar os interesses de uma entidade em detrimento de outra. Incluem o boicote, a manipulação de informações e espionagem económica. … Além da espionagem económica, foi estabelecido sistematicamente o boicote, como entrave à atividade económica… Com a extraterritorialidade os EUA aplicam a sua legislação nacional a pessoas físicas ou jurídicas para além das suas fronteiras. É um ato político, uma vez que … resulta de lógicas de influência e coerção. As multas aplicadas, com base na lei extraterritorial, seguem uma curva exponencial. Em 2004, o total de multas pagas foi de 10 milhões de dólares, atingindo …  6,4 mil milhões em 2020. … Usando meios subversivos e sabotando qualquer tentativa adversa de posicionamento económico no cenário mundial, os Estados Unidos moldaram estas estruturas da forma mais adequada à sustentabilidade de seu poder…. Para Christian Harbulot e Didier Lucas: ‘Os Estados Unidos já não consideram o mundo composto de aliados, neutros, adversários e inimigos, mas de públicos estrangeiros mais ou menos diferenciados que manipulam e influenciam’. … [As empresas transnacionais americanas] contribuem decisivamente para o poder financeiro e capitalista dos EUA em todo o mundo e constituem uma extraordinária ferramenta de predação para o enfraquecimento das economias concorrentes … . O fim justifica os meios segundo a doutrina americana, assim todos os meios do Estado (económicos, políticos, de espionagem, militares …) são mobilizados para defender os seus interesses no mundo. … O ‘soft power’  tem uma dupla vocação: cuidar da imagem dos Estados Unidos e constituir uma rede de influência. Parte importante desta estratégia são as ações de intensa propaganda para ser globalmente adotado o ‘American Way of Life’, …  Promove-se a imagem do soldado, do herói, impondo a sua visão única de felicidade e sucesso ao resto do mundo. (66). Um imaginário que as produções Hollywood, os serviços de vídeo sob assinatura e o controlo dos media promovem. … De 2001 a 2017, os EUA afastaram-se gradualmente das estruturas (reconhecidamente a seu favor) que regiam as relações entre aliados. Desde 2017, temos observado um recuo, um questionamento sistemático dos acordos de livre comércio, da ordem mundial estabelecida, um endurecimento das relações com seus aliados, um etnocentrismo assumido. … Os Estados Unidos estão atualmente em numa posição de equilíbrio particularmente instável, que põe em questão a realidade de seu poder. Nesta situação eles têm de reafirmar imperativa e sistematicamente o seu poder a fim de lembrar a todos que são os donos do jogo. … O texto integral do relatório, com 181 pgs., encontra-se em https://www.ege.fr/sites/ege.fr/files/media_files/rapport_alerte_usa_2021

https://aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/7227-as-estrategias-imperiais-dos-eua-e-como-enfraquecem-os-outros-paises

O texto consta em português de Portugal, como  devem ter percebido. Certamente, o meu grifo (destacando a informação dos autores de que tudo o que o se expressa no texto  tem aplicação global, é desnecessário,  pois o leitor já terá correlacionado muito do que lá consta com o que ocorre e ocorreu em um país “que tem palmeiras  onde canta o sabiá” ... Ai está a Lava Jato como exemplo mais gritante e recente. Ai está o “impeachment” (de fato, deposição com tons legais) da Dilma. Ai está a atual desmontagem neoliberal do País sob a batuta do maestro Paulo Guedes – após proveitoso treinamento no Chile de Pinochet – da Petrobras e da Eletrobras. Ai está a crescente precarização dos direitos do Trabalho. Voltamos ao assunto na msg de encaminhamento.