Artigos selecionados Desmonte Nº 56

ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº  56

1 – “O pai do pré-sal  lamenta: ‘a Petrobrás acabou’” – Entrevista com  o geólogo Guilherme Estrella –  Sindipetro   –   05  OUT. “O geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de exploração e produção da Petrobrás e considerado o ‘pai do pré-sal’, alertou para os prejuízos causados ao País com a venda de empreendimentos da estatal. De acordo com o ex-dirigente, ‘estamos vendendo ativos, sendo esquartejados não para o capitalismo produtivo. O que estamos sofrendo é uma privatização ligada à faceta que hoje domina o capitalismo, que é o financeiro’. ‘A Petrobrás acabou. O nome da Petrobrás hoje é Petrobrax. A nossa Petrobrás acabou. Está de costas para o Brasil. Não tem mais interesse no Brasil, a não ser tirar muito dinheiro, tirar recursos daqui e exportar recursos. Nós estamos com a Petrobrax, que é a Petrobras que estava lá no governo FHC’, afirmou Estrella … Segundo o ex-diretor, ‘tudo que estamos enfrentando é produto do governo Fernando Henrique Cardoso, que fez um governo criminoso em relação aos interesses brasileiros, com a abertura da Petrobras na Bolsa de Nova York’. ‘Hoje em torno de 60 a 70% dos acionistas são estrangeiros. Isso significa que até 70% dos lucros é dirigido a esses grupos, que são financeiros. Esse governo que está aí e desde o golpe de 2016 é ligado a esses capitalistas’, continuou. ‘Se vende os ativos da Petrobrás e se fica com um filé mignon –o pré-sal, com poços que produzem 30 mil barris por dia e têm o mercado do Rio e São Paulo em frente, 300 km. O restante da Petrobras não existe mais’, acrescentou. “

http://www.sindipetrolp.org.br/noticias/27885/o-pai-do-pre-sal-lamenta-quota-petrobras-acabouquot

A conclusão óbvia não é de agora: nossas lideranças  –  mormente as atuais – não tem nenhuma visão geopolítica e geoestratégica. Renderam-se ao “deus mercado” e toca a fazer dinheiro de qualquer forma, de preferência a mais rápida  possível,  para beneficiar acionistas, como indica Estrella, na maioria estrangeiros. Estamos dilapidando o nosso maior  capital econômico  que, nos tempos de Lula, estava previsto  para tirar defnitivamente o País da ignorância  e da pobreza. Melhor dizendo, do subdesenvolvimento. Engraçado como, no governo de um ex-metalúrgico, tivemos uma fase de valorização geopolítica e geoestratégica que não ocorreu sob a presidência de luminares, Fernando Henrique à testa…

2“A cultura vai à guerra ” – Jotabê Medeiros – Carta Capital nº 1126 –  07 OUT. “Sempre o mesmo, Bolsonaro chama fardados para um ministério em lugar de intelectuais.”

Em resumo, o que interessa do texto do artigo indicado:  o novo diretor-executivo da Fundação Casa de Rui Barbosa, “a mais antiga instituição de referência literária e pesquisa  intelectual do País, desde os anos 30 em atividade”  é um capitão de mar e guerra. Na Agência Nacional do Cinema (Ancine)  é outro capitão de mar e guerra o Superintendente de Prestação de Contas. “O governo ainda entregou a  Fundação Nacional de Arte (Funarte) a um coronel do Exército da reserva”. … Mas poucas nomeações chamaram tanta atenção quanto a do oficial da reserva Eduardo Zarat como Diretor do Departamento de Promoção da Diversidade Cultural da Secretaria Nacional de Economia Criativa e Diversiadade Cultural.”  O nomeado “é especialista em defesa aérea, conforme apregoa” ….  “Os bolsonaristas elevaram um capitão da Polícia Militar da Bahia … ao posto de secretário de Fomento e Incentivo  à Cultura … “ . Ainda sobre a presença crescente de militares no governo ver “Bolsonaro nomeia três militares para direção de agência de proteção de dados – https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-nomeia-tres-militares-para-direcao-de-agencia-de-protecao-de-dados/. Dos cinco nomeados, três são militares. No subtítulo. a notícia indica que, além do Brasil, apenas Rússia e China também têm militares em órgãos responsáveis pela proteção de dados e internet”.

3 – “Anvisa libera o agrotóxico proibido” – Maíra Mathias e Raquel Torres  –  OutraSaude – 08 OUT. “Paraquate não poderá mais ser fabricado ou importado — mas os estoques atuais serão despejados na comida. Veneno pode provocar Parkinson e mutações.. … Há apenas três semanas,  a Anvisa decidiu que ele seria banido do país a partir do dia 22 de setembro. Mas, como comentamos por aqui, naquele momento fabricantes e grandes produtores já faziam lobby para garantir que pudessem continuar usando o produto que restou em seus estoques. Um detalhe precisa sempre ser lembrado: ninguém foi pego de surpresa pelo banimento, que já estava previsto para este ano desde 2017. As compras foram feitas apesar da proximidade da data – e com a tranquilidade de quem sabia que não perderia dinheiro. A flexibilização veio ontem na reunião da diretoria colegiada da agência. E foi fácil: cinco votos a favor, nenhum contra. O pedido partiu do Ministério da Agricultura, por meio de um ofício ao diretor-presidente da Anvisa, o almirante Antonio Barra Torres. E a justificativa foi que a retirada do veneno poderia aumentar os custos de produção e o preço final dos alimentos para a população brasileira… “

outraspalavras.net/outrasaude/lobbyempresarialsabequepodecontarcomanvisa/

Junto à opinião pública, o desgaste dos militares  devido à sua participação na alta administração federal só pode tender a acentuar-se. Certamente, a imprensa não vai dar tréguas à divulgação de notícias deste tipo.

4 – “Nassif diz que pacto entre Bolsonaro e instituições é a maior ameaça à história do Brasil” – 247  –  11 OUT. “Jornalista avalia que filhos do presidente serão protegidos, prevê a destruição do estado brasileiro e de sua rede de proteção social e a liberação de atividades, como os cassinos, que serão operadas pelas milícias”. “A pactuação entre Jair Bolsonaro e as chamadas instituições, que vem sendo comemorada por alguns setores da sociedade, representa uma grande ameaça. … Nassif listou sete movimentos: 1 –   Bolsonaro garantirá a legitimação de quem foi eleito pelo voto, dentro do conceito de democracia mitigada. Tentará a reeleição recorrendo a práticas populistas, mas persistindo no desmonte [grifo meu] de todas as políticas públicas…. 2 – O Supremo facilitará o trabalho do Estado profundo, atuando como agente moderador de alguns excessos – na questão do meio ambiente e nos ataques do gabinete do ódio. Mas será essencial para manter a oposição manietada e Lula fora do jogo. E também como avalista final de todas as loucuras ultraliberais e do desmonte [grifo meu] de todas as redes de proteção social … . 3  –  Tribunal Superior Eleitoral, Polícia Federal e Tribunal de Contas da União também poderão ter papel relevante na inviabilização da oposição … 4 – O centrão terá à sua disposição Ministérios inteiros, de porteira fechada. 5 – Se passar a reforma administrativa proposta, o governo terá à sua disposição milhares de cargos para barganha política. 6. O mercado terá o desmonte [grifo meu] do Estado, o esvaziamento das políticas sociais e os grandes negócios com as privatizações, através do mantra das ‘reformas’. 7.  As Forças Armadas terão aumento no orçamento e um amplíssimo mercado de trabalho no setor público para militares da ativa e da reserva. Militares ocupando cargos estratégicos na máquina pública, abrirão  mercado para lobistas atuando junto ao setor privado … Ele também afirmou que Bolsonaro terá plena liberdade para prosseguir com seis políticas destrutivas: 1 – Desmonte [grifo meu] da política educacional. 2 – Esvaziamento dos órgãos de financiamento da ciência e tecnologia. 3 – Abandono de todas as políticas inclusivas, de saúde ou de educação, e entrega de verbas públicas a instituições religiosas ou particulares especializadas em explorar a deficiência. 4 – Desmonte [grifo meu] das políticas culturais. 5 – Desmonte [grifo meu] dos sistemas de fiscalização ambiental.. 6.  Abertura de mercado para milícias, indústria do lixo, indústria de armas, cassinos e outros setores associados.”

https://www.brasil247.com/midia/nassif-diz-que-pacto-entre-bolsonaro-e-instituicoes-e-a-maior-ameaca-a-historia-do-brasil

Dei-me a trabalho de grifar a palavra “desmonte”, quando aparece no texto. E foram cinco ocasiões! Nassif é jornalista experiente. Quando possível, dou  destaque a avaliações da conjuntura política, em sentido mais amplo, como é o caso. Creio que o cenário apresentado deixa de levar em conta algumas reações possíveis da Sociedade como um todo, senão do próprio Congresso e, quem sabe, alguma surpresa por parte do Supremo (malgré Fux …)

5­­­­“’Efeito Bolsonaro’ aumentou casos e mortes por coronavirus no Brasil, aponta estudo”  – 247  –  13 OUT. Pesquisadores identificam em estudo o ‘efeito Bolsonaro’ na propagação da pandemia do coronavírus. Há uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro e a expansão da Covid-19, segundo estudo da UFRJ realizado em parceria com o IRD. Segundo a pesquisa, para cada 10 pontos percentuais a mais de votos para Bolsonaro há um acréscimo de 11% no número de casos e de 12% no número de mortos. … Outras instituições constataram o mesmo, como em um trabalho feito por pesquisadores da UFABC (Universidade Federal do ABC), da Fundação Getúlio Vargas e da USP (Universidade de São Paulo). Esse estudo concluiu que em praticamente todas as ocasiões em que o presidente minimizou a pandemia, a taxa de isolamento social no Brasil diminuiu e mais pessoas se contaminaram e morreram, proporcionalmente, nos municípios em que Bolsonaro obteve uma melhor votação na eleição de 2018.”

 https://www.brasil247.com/brasil/ao-minimizar-covid-19-bolsonaro-influencia-seguidores-e-provoca-alta-no-contagio-e-nas-mortes-segundo-pesquisa?amp=&utm_source=onesignal&utm_medium=notification&utm_campaign=push-notification

A comprovação de uma irresponsabilidade criminosa!

6 – “Vaza Jato: Dallagnol fez pressão sobre Judiciário para ter juiz ‘amigo’ no lugar de Moro” – 247  – 13 OUT. “Em mais um capítulo da Vaza Jato, novas mensagens revelam que o procurador Deltan Dallagnol fez pressão sobre um Poder independente, o Judiciário, para conseguir a indicação de um juiz ‘amigo’ à frente da Lava Jato, depois da saída de Sergio Moro. …  MP nunca havia feito pressão do tipo sobre o Judiciário. … As articulações estão explícitas em duas mensagens de áudio do então coordenador da força-tarefa, o procurador Deltan Dallagnol. Nelas e em várias mensagens de texto trocadas pelo Telegram em janeiro de 2019, ele elenca os principais candidatos à vaga de Moro, elege os preferidos da força-tarefa e esboça o plano em andamento para afastar quem poderia ‘destruir a Lava Jato’, na opinião dele.Quando Moro abandonou a carreira de juiz, em novembro de 2018, … deixou vaga a cadeira de responsável por julgar os processos da Lava Jato na primeira instância. A sucessão ou substituição de um magistrado é um processo comum no poder Judiciário, que tem autonomia para decidir – obedecendo a um regimento interno. O que é no mínimo incomum, nesse caso, é a pressão e a interferência de um órgão externo, o Ministério Público Federal. Em mensagens de texto e áudio, Dallagnol também pede a colegas familiarizados com o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região … responsável pela Justiça Federal do Paraná, que tentassem ‘advogar’ junto a ele por uma solução que agradava à força-tarefa. A ideia compartilhada por Dallagnol e por juízes federais do Paraná era colocar três magistrados na posição de assessores de um quarto, o veterano Luiz Antônio Bonat …  . O plano articulado para montar o time de juízes acabou por não sair do papel, mas o principal foi feito: Bonat foi convencido a disputar a vaga. …  Nas conversas, fica claro que o juiz resistiu a entrar na disputa e que ele foi convencido a concorrer por colegas e procuradores que ‘estavam preocupados’ com a vitória iminente de alguém visto com desconfiança pela Lava Jato: Julio Berezoski Schattschneider, um juiz que atuava em Santa Catarina. …  Em viva voz, o procurador [Dallagnol] faz duas grandes confissões. Juízes federais alinhados à Lava Jato ‘estavam preocupados’ com a possibilidade de que Schattschneider ficasse com a vaga de Moro, … Entregamos a transcrição integral dos áudios e um resumo cronológico detalhado das mensagens de texto ao TRF4, à Justiça Federal do Paraná e ao MPF. Aos órgãos do Judiciário, perguntamos se ..  o tribunal não considera que as conversas narradas por Dallagnol são uma interferência indevida no Judiciário e fizemos o mesmo questionamento à força-tarefa da Lava Jato. Ao MPF, perguntamos se os procuradores chegaram a visitar candidatos para a vaga de Moro, como disse Dallagnol, e se o órgão não considerava inadequado o lobby sobre os juízes para viabilizar os nomes de sua preferência e, depois que esse plano falhou, para garantir que Bonat não desistisse da vaga

https://www.brasil247.com/brasil/vaza-jato-dallagnol-fez-pressao-sobre-judiciario-para-ter-juiz-amigo-no-lugar-de-moro

O texto contém a transcrição de várias mensagens de Dallagnol, a  respeito. Embora o assunto tenha  tido a devida repercussão na mídia é aqui transcrito como “sinal dos tempos”: mais um  indicativo concreto de que a Lava Jato não vê nenhum impedimento em passar por cima de quaisquer regras quando julga necessário o atingimento de algum  seus objetivos. Nem se faz  a clássica pergunta “e agora?” pois já é sabida a  resposta a tais questões quando se trata de excessos da Lava Jato: nada vai acontecer e o juiz, Bonat, com sua autoridade comprometida, vai contimur lá em Curitiba, julgando airosamente os processos da Lava Lato, com rara competência pois, afinal, é “juiz amigo” … Em resumo: prossegue, impávido,o Desmonte do Judiciário & MP!

7 – “Ao STF, Petrobrás afirma que nunca acusou Lula nos EUA ” – Grupo Prerrogativas  – 14  OUT. “A Petrobrás afirmou em parecer que jamais acusou Lula de envolvimento em corrupção nos Estados Unidos. No parecer os advogados da empresa tentam negar acesso da defesa de Lula a documentos e informações trocados com autoridades norte-americanas. A defesa de Lula quer acesso ao material para demonstrar a posição contraditória e antagônica adotada pela Petrobras no Brasil e nos EUA, seja na posição jurídica (vítima ou culpada), seja em relação ao mérito dos contratos citados nas ações penais propostas contra o ex-presidente pela Lava Jato.”

www.prerro.com.br/petrobras-afirma-ao-stf-que-nunca-acusou-lula-nos-eua/

A situação evoluiu e, para não efetuar a entrega dos documentos e informações em questão, a Petrobras passou a defender, no Supremo, a tese ridícula de que a Petrobras passe a ter o status de uma Embaixada no que se refere à guarda do material em questão, como forma de evitar a sua entrega (“Petrobrás pede para ter tratamento de embaixada estrangeira e não compartilhar seus acordos com os Estados Unidos” – www.brasil247.com/economia/petrobras-pede-para-ter-tratamento-de-embaixada-estrangeira-e-nao-compartilhar-seus-acordos-com-os-estados-unidos ). Mais recentemente (4 Nov), o Min Fachin (sempre ele!)  “negou um pedido da defesa do ex-presidente Lula para ter acesso aos documentos enviados pela Petrobras ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que serviram para fazer acordo e encerrar uma ação coletiva. Lula pedia acesso aos documentos por entender que eles provariam sua inocência em relação às acusações da Lava Jato. Os advogados lembraram que, enquanto a Petrobras é assistente da acusação no Brasil, nos EUA nunca mencionou Lula e assumiu a culpa pelas fraudes em suas diretorias”, Cabe indicar que os documentos em causa foram fornecidos, anteriormente aos procuradores da Lava Jato.  (“Fachin nega a Lula acesso a documentos sobre Petrobras que provariam sua inocência”  – https://www.brasil247.com/brasil/fachin-nega-a-lula-acesso-a-documentos-sobre-petrobras-que-provariam-sua-inocencia) .

.8 – “Fábio de Sá e Silva: A Lava Jato como plataforma da extrema direita no Brasil” – Entrevista  à Deustche Welle – Viomundo – 16 OUT. “No ímpeto de fazer avançar operações contra corrupção, a Lava Jato acabou por enfraquecer a democracia e o Estado de direito e reproduziu estratégias adotadas por populistas e líderes iliberais, que buscam minar as instituições em benefício próprio. Esse discurso, potencializado pela imprensa, ganhou as ruas e acabou por favorecer a eleição do presidente Jair Bolsonaro. A análise é de Fábio de Sá e Silva, professor de estudos brasileiros na University of Oklahoma, nos Estados Unidos, a partir de pesquisa que codificou 194 entrevistas concedidas por membros da Lava Jato e pelo juiz Sergio Moro, de janeiro de 2014 a dezembro de 2018, somando mais de mil páginas de conteúdo. O estudo foi publicado no último sábado (10/10) no Journal of Law and Society. … Sá e Silva afirma que as entrevistas indicam que a Lava Jato tinha uma ‘gramática política’ estruturada, que incluía pressionar pela mudança de normas em benefício da própria força-tarefa, classificar os que resistiam a alterações como inimigos do povo e contornar a lei quando necessário para alcançar objetivos políticos. Para ele, a retórica dos integrantes da Lava Jato indica que eles ‘estão muito mais próximos da ideia de identificação e perseguição do inimigo do que propriamente da contenção de arbitrariedade no exercício do poder, que é a chave do liberalismo’. … [Ele] aponta ser ‘difícil negar que a luta anticorrupção serviu como plataforma para a extrema direita no Brasil’.” Detalhes sobre a extensa  (e interessante) entrevista no link abaixo.

https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/fabio-de-sa-e-silva-a-lava-jato-como-plataforma-da-extrema-direita-no-brasil.html

Um estudo sério que comprova fatos conhecidos, somente negados por quem não quer ver …

9 – “Em campanha por Trump, Bolsonaro adere à ofensiva anti-China dos Estados Unidos” – 247 – 20  OUT. “O governo de Jair Bolsonaro dá nesta terça-feira seu passo mais perigoso em política externa. Ao receber Robert O’Brien, o conselheiro de segurança do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e discutir com ele sobre o eventual banimento da gigante tecnológica chinesa, o Brasil se envolve totalmente na ofensiva anti-China da superpotência do norte, o que pode abrir uma crise diplomática com o principal parceiro comercial e maior investidor externo do país, prejudicando os interesses nacionais. O chefe de segurança de Trump chegou ao Brasil para participar do anúncio de um pacote comercial entre os dois governos às vésperas das eleições americanas. Mas o objetivo principal da agenda de O’Brien, que terá nesta terça-feira (20) audiências com Jair Bolsonaro e o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional é promover  no Brasil a campanha anti-China, prioritária na política externa dos Estados Unidos. … Reportagem de Ricardo Della Coletta, Fábio Pupo e Gustavo Uribe na Folha de S.Paulo informa que a principal missão de O’Brien no Brasil é envolver o país na briga dos EUA para “reduzir a influência global da China e ainda barrar a empresa Huawei do mercado de 5G”. A alegação do governo Trump é que a empresa chinesa não oferece garantias de segurança e privacidade. … banimento da Huawei trará prejuízos ao Brasil e custará caro ao consumidor brasileiro. Sem a Huawei, a evolução da tecnologia de quinta geração demoraria até quatro anos para ser iniciada porque as teles teriam de trocar todos os equipamentos, que não conversam com o 5G dos concorrentes. Isso tornaria a evolução da telefonia mais cara para os brasileiros. Os Estados Unidos querem que o Brasil e outros países coloquem travas para que a Huawei não forneça equipamentos para a nova geração de tecnologia de elecomunicações. O leilão de frequência no Brasil deve ocorrer no ano que vem….  banimento da Huawei criará problemas diplomáticos e comerciais com a China, o principal parceiro comercial do Brasil. Essa preocupação já foi demonstrada tanto pela ministra da Agricultura como pelo general Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

https://www.brasil247.com/brasil/em-campanha-por-trump-bolsonaro-adere-a-ofensiva-anti-china-dos-estados-unidos

Se a política externa do Brasil sob  a dupla Bolsonaro/Araújo já é em si motivo de justa preocupação para os setores responsáveis do País, imaginem o grau de inquietação quando o Brasil dáseu passo mais perigoso em política externa”. Ao que tudo indica um passo em falso e extremamente inconveniente, considerados os  interesses nacionais, Com a presença de O’Brien ainda no Brasil ocorreu a surpreendente decisão de Bolsonaro  desautorizar o acordo de intenção de compra já firmado pelo seu ministro-general  Pazuello para que  fossem adquiridas  46 milhões de doses da vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o instituto Butantan, do governo de São Paulo.  Agora, a decisão surpreende menos,  enquadrando-se no vergonhosa quadro de sujeição aos interesses americanos … .Nota: esta coletânea de artigos está sendo encaminhada após a eleição de Biden, que, provavelmente,  não deverá alterar substancialmente a pressão diplomática americana contra a adoção do 5G chinês.

10 – “Rovai: os generais estão entregando sua dignidade para um débil mental”  – Renato Rovai – Revista Forum – 21 OUT. “O jornalista e editor da Revista Fórum, Renato Rovai, disse em conversa com Leonardo Attuch, do Brasil 247, que se espanta com o nível de submissão e de humilhação ao qual se sujeitam o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e os demais generais do governo Jair Bolsonaro. Com a desautorização de Bolsonaro nesta quarta-feira (21) de um acordo de intenção de compra da CoronaVac, vacina chinesa contra a Covid-19, firmado pelo Ministério da Saúde na terça-feira (20), Rovai afirmou que o mais apropriado diante da atitude de Bolsonaro seria Pazuello pedir demissão do governo.”

https://revistaforum.com.br/blogs/blogdorovai/os-generais-estao-entregando-sua-dignidade-para-um-debil-mental/

O que poderia ser entendido como uma notícia dada por um jornalista destrambelhado, ganha novo contorno quando “O general Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro, criticou uma fala do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre obediência a Bolsonaro, ainda que não tenha citado nomes. “Hierarquia e disciplina, na vida militar e civil, são princípios nobres. Não significam subserviência e nem podem ser resumidos a uma coisa ‘simples assim, como um manda e o outro obedece’… Como mandar varrer a entrada do quartel” (“General Santos Cruz critica fala de Pazuello sobre obediência a Bolsonaro” – CorreioBrasiliense, 24 out). E, afinal, ainda cabe reportar, em rápida sequência, o caso do Min Salles ter se referido ao Gen, Ramos, em público, como  “Maria Fofoca”. Desculpou-se, em seguida, mas o mal estava feito….. (“Salles chama general Ramos de ‘Maria Fofoca’ e instala nova crise no governo Bolsonaro” – Correio Brasiliense, 24 out). O Desmonte 55 anterior versou, exclusivamente, sobre a atual “questão militar”, ampliando as informações aqui reproduzidas.

11Sumário pot-pourri econômico:

Presidente do BC confirma que devastação ambiental de Salles afugenta investidores – 14 OUT https://www.contextoexato.com.br/post/presidente-do-bc-confirma-que-devastacao-ambiental-de-salles-afugenta-investidores20201014

Fuga de capitais e o fiasco de Guedes” 26 OUT https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/fuga-de-capitais-e-o-fiasco-de-guedes/#:~:text=Desde%202019%20o%20Brasil%20enfrenta,realizar%20essas%20estat%C3%ADsticas%2C%20em%201982.&text=O%20que%20%C3%A9%20t%C3%ADpico%20de%20pa%C3%ADs%20atrasado

– “Bloomberg vê sinais sinistros no Brasil e rebelião dos investidores” –  30 OUT –  https://cnf.org.br/bloomberg-ve-sinais-sinistros-e-rebeliao-dos-investidores/

– “Bolsonaro bate novo recorde: maior taxa de desemprego da História” – 1º NOV –  https://www.blogdomello.org/2020/11/bolsonaro-bate-novo-recorde-maior-taxa.html

– “Estatal chinesa aumentará compra de soja na Argentina – 30 OUT – https://br.sputniknews.com/economia/2020103016307295-estatal-chinesa-aumentara-compra-de-soja-da-argentina/   e  “China vai comprar soja na África para diminuir dependência do Brasil” – 9 NOV https://estadaomatogrosso.com.br/economia/china-vai-comprar-soja-na-africa-para-diminuir-dependencia-do-brasil/16197

-“Inflação terá alta de 3,2% neste ano, prevê mercado financeiro” – 9 NOV    – https://economia.ig.com.br/2020-11-09/inflacao-tera-alta-de-32-neste-ano-preve-mercado-financeiro.html?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification

 Não se poderia  deixar de incluir alguma informação sobre o atual Desmonte econômico enfrentado pelo País. Que  não é só causado pela pandemia. As crescentes dificuldades na exportação de soja para a China devem-se exclusivamente à sabujice de Bolsonaro  visando  agradar Trump …

Nº 56

Prezados leitores/amigos,

Devido à queda de Trump, registro, inicialmente  minha grande satisfação. O ar no mundo passou a ficar mais respirável! Mas tal  satisfação não vai  a ponto de considerar que serão alterados os interesses estruturais e geopolíticos  dos americanos. Assim, por exemplo, creio que continuem as pressões para que a tecnologia 5G seja deles adquirida.  Lembremo-nos que foi no governo democrata Obama que veio a público a espionagem da NSA envolvendo  a interceptação de  mensagens telefônicas de presidentes de outros países,  no Brasil com as da  Dilma e, na Alemanha, com as de Angela Merkel, motivo de consideráveis reações diplomáticas, incluindo, pelo lado de nosso País, o cancelamento da visita de Dilma aos EUA e o contundente discurso  que fez em  sessão de abertura da ONU.

Excepcionalmente, este Desmonte 56 sucede com poucos dias o anterior (em lugar do intervalo médio de 30 dias). Isto se deve ao fato do 55, à feição de um Desmonte temático,  ter sido destinado à abordagem exclusiva da “questão militar”.

 Cabe recordar ainda aos leitores a diretriz adotada de não incluir nos Desmontes, necessariamente,  assuntos que já tenham sido amplamente  divulgados pela mídia.  

Sugere-se  que a leitura ocorra paulatinamente, em função da disponibilidade de tempo e  da área de maior interesse de cada um.

 Luiz Philippe da Costa Fernandes

Artigos Selecionados no Desmonte Nº 56

Nº 55: A Questão Militar

A Questão Militar

                                      Sapere aude   (ouse saber) – tenha a ousadia de fazer uso de seu próprio entendimento.

Prezados leitores e amigos,    

Este Desmonte vai fugir à forma padrão de encaminhamento, a saber, algumas sumárias considerações  e um anexo (os “Artigos Selecionados) contendo o resumo comentado de cerca de dez artigos julgados de maior interesse,  vale dizer, mais representativos do Desmonte em curso no País. Versará sobre a questão militar, como vista pelo autor destas coletâneas. Mas como pode ser constatado no texto, não se estará fugindo ao Desmonte do Estado Brasileiro … E os “Artigos Selecionados” que constariam como anexo a este Desmonte 55 seguirão em seguida, separadamente.

Refletindo sobre o momento atual, ocorre-me que é oportuno abordar, com pouco mais de detalhe,  a relação entre os militares e o governo Bolsonaro que, aparentemente, vai causando desconforto mútuo cada vez mais significativo.

Como introdução, a pergunta: por que os militares, afinal, aceitaram (gostosamente ) integrar-se  a um  governo como o de Bolsonaro? Como antecedentes, cabe indicar que, em livro recentemente publicado por Michel Temer, ele admite que, desde 2015, esteve em contato próximo com militares – incluindo o gen. Sérgio Etchegoyen e o então comandante do Exército, gen. Villas Bôas – conspirando para a queda da então presidente Dilma (“PT: golpista, Temer confessa que tramou a deposição de Dilma”  – https://www.brasil247.com/poder/pt-golpista-temer-confessa-que-tramou-a-deposicao-de-dilma).

Em abril de 2018, ainda Villas Boas no Comando  do Exército, ele fez pronunciamentos contra a concessão de habeas corpus que seria  julgado pelo  Supremo Tribunal Federal no dia seguinte. Em entrevista posterior, confirmou que  pretendia “intervir” caso o STF concedesse habeas corpus ao ex-presidente Lula; “Temos a preocupação com a estabilidade, porque o agravamento da situação depois cai no nosso colo. É melhor prevenir do que remediar”, disse. Durante o julgamento, (o habeas corpus não foi concedido pela  diferença de um voto), o min. Celso de Mello afirmou que as declarações de Villas Boas eram “claramente infringentes do princípio da separação de poderes” e “que parecem prenunciar a retomada, de todo inadmissível, de práticas estranhas (e lesivas) à ortodoxia constitucional” (“General Villas Bôas diz que calculou ‘intervir’ caso STF desse HC a Lula” – https://www.conjur.com.br/2018-nov-11/villas-boas-calculou-intervir-stf-hc-lula.

De tais fatos, parece despontar a conclusão cristalina: o nosso Exército conspirou contra um governo democraticamente eleito e interferiu em decisão  de nosso mais importante tribunal. Os propósitos podem ter sido considerados nobres, à época, mas as ações decorrentes foram decididamente inconstitucionais e hostis à Democracia. A meu ver, tais interferências contribuíram fortemente para a situação de descalabro político e jurídico em que ainda nos debatemos. Afinal, ou se respeita a Constituição ou entramos no regime do vale tudo, por critérios subjetivos.

É enorme a responsabilidade dos chefes militares que participaram de tais iniciativas e a História irá julgá-los com possível severidade. Naturalmente, tais atitudes não foram adotadas de afogadilho. Tinham um propósito. E este propósito parece ser a decisão militar de participar e influir diretamente na política nacional, no governo Bolsonaro. Talvez, a razão última que os induziu a tal perigoso desiderato tenha sido o receio, a meu ver pouco racional, de que a  esquerda continuasse/voltasse  ao poder com  Lula. Ora, quando a Democracia e as instituições democráticas estiveram  mais ameaçadas? Nos  governos Lula/Dilma ou no do Bolsonaro?

Ao final,  abriu-se uma ótima janela de oportunidade para que os miltares voltassem a dar as cartas na alta administração federal. São milhares de militares,  (até da  ativa), atrelados ao governo Bolsonaro. E, por mais que tais  militares tenham os mais  nobres propósitos, a opinião pública  tende a ver em tal crescente adesão cada vez mais o interesse pecuniário … . Esqueceram-se  os militares que, alçados a elevados cargos políticos,  ver-se-iam na contingência de serem tratados como políticos. E, mormente quando alguns de tais  cargos são ocupados por militares da ativa, suas Forças de origem são alcançadas por eventuais críticas  sobre eles emitidas em publico.

Não se pode enganar todos, todo o tempo. E o Exército conhece perfeitamente as qualificações de Bolsonaro. Segundo a “ficha de informações” produzida em 1983, pela Diretoria de Cadastro e Avaliação do ministério, Bolsonaro, então tenente com 28 anos de idade. “deu mostras de imaturidade, ao ser atraído  por empreendimento de garimpo de ouro’. Necessita ser colocado em funções que exijam esforço e dedicação, a fim  de reorientar sua carreira. Deu demonstrações de excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”. Segundo um de seus superiores, “Bolsonaro tinha permanentemente a ambição de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como  pela falta de lógica” (“Bolsonaro era agressivo e tinha ‘excessiva ambição’, diz ficha militar” –  https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1884332-bolsonaro-era-agressivo-e-tinha-excessiva-ambicao-diz-ficha-militar.shtml  )

Mesmo com tais elementos de informação, o Exército decidiu apoiar Bolsonaro. Assumiu-se a premissa de  que o Presidente, até por sua fraqueza, após a posse iria fatalmente apoiar-se  na orientação militar. A  estratégia falhou, pois Bolsonaro,  depois de quase três décadas como deputado federal, passou a ser muito mais um (mau)político  do que  um  militar. E ai vai ocorrer um fenômeno que alguns referem à psicologia, terreno em que, por desconhecimento, não irei me aventurar. Mas é inegável  a impressão que se tem,  de que Bolsonaro sente certo  prazer   em mostrar  que é ele quem manda, não hesitando em provocar humilhações públicas a seus antigos chefes ou admitir que o façam, sem interferir.

Era de se prever que,  cedo ou tarde,  iriam se chocar dois  modos de ser  bem distintos: os militares, para que sejam alçados aos postos mais elevados da carreira, necessariamente devem ser dotados, em algum grau, de uma visão geopolítica e geoestratégica. Tal visão é incompatível com a atual política externa.  Eles também, valorizam o combate à corrupção (o que os levam muitas vezes a desdenhar do político  profissional – embora Bolsonaro tenha sido um deles ! …). Tais valores os induzem à não conformidade com  manobras visando livrar familiares do presidente dos rigores da Lei e medidas como a aproximação desenfreada ao Centrão e as consequências derivadas …

Tais choques, entre outros que o espaço não permite apresentar, produziram eventos marcantes  e desagradáveis aos militares. Anteriormente, eles  já haviam sido afetados com as defecções pelo governo  de chefes respeitados, em um dos casos (gen. Santos Cruz – ex-Secretário Geral da Presidência da República, demitido em junho de 2019),  por pressão de um dos filhos de Bolsonaro (Carlos)  e dos olavistas   (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48631592). Em novembro de 2019, foi a vez do gen. Santa Rosa, Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos,  pedir demissão, segundo ele visando antecipar-se à “fritura” que ocorre em tais situações ( https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/10/rego-barros-e-comparado-a-santos-cruz-ckgv0x2lt001o01jdi6elma4e.html).  Mais recentemente, ocorreu a rumorosa desautorização ao gen. Pazzuelo (da ativa) que,   antes de assinar a tal carta de intenções  assinalando a compra  das 46 milhões de vacinas chinesas (Sinovac/Butantan), certamente consultara previamente o presidente (https://globoplay.globo.com/v/8960078/). Pazzuelo foi desautorizado em público e, ainda no hospital, fez a infeliz declaração de que no governo Bolsonaro  “é  simples assimum manda e o outro obedece”. Em rápida sequência, coube ao patético ministro do Meio Ambiente  .Ricardo Salles  debochar, publicamente,  do gen.Braga Netto, Ministro-Chefe do Gabinete Civil (um militar no Gabinete Civil?!?) apelidando-o de  “Maria Fofoca”. Posteriores desculpas pro forma do Salles não encerraram o episódio.

O próprio gen. Santos Cruz, já nomeado anteriormente, contrariando seu perfil discreto, fez publicar artigo, em outubro p. p.,   que teve muita repercussão (https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/10/rego-barros-e-comparado-a-santos-cruz-ckgv0x2lt001o01jdi6elma4e.html . Nele,  Santos Cruz faz constar que “Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói” e mais “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”. E completou: “alguns ‘assessores leais’ deixam de ser respeitados e ‘outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas’ A autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao Olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contradita. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas” . (Consta que o artigo mereceu aprovação no meio militar).

O vice-presidente gen. Mourão também já teve seus choques com Bolsonaro. De uma feita,  ao afirmar que é lógico que as vacinas chinesas irão ser compradas, quando pouco antes Bolsonaro afirmara que não iria adquirí-las de forma alguma. Em outra ocasião, Mourão defendeu uma postura de equilíbrio, caso a eleição americana fosse depender da Suprema Corte daquele país, contrariando a posição de Bolsonaro, de ostensivo apoio a Trump.

As informações acima não estariam completas sem dois acréscimos. Em primeiro lugar, mencionar que alguns dos generais palacianos (Heleno e Fernando Azevedo, Ministro da Defesa, à frente) foram de grande valia a Bolsonaro, a seu tempo,  quando ele ensaiou uma posição de força junto ao STF e ao Congresso, beirando um ato contra a Constituição. Em tais momentos, as declarações “duras” de tais autoridades serviram como aríetes, visando, aparentemente,  intimidar as Instituições “que estavam saindo dos limites” (como vistos pelo governo…). Finalmente, indica-se que a vitória praticamente assegurada de Biden, nos EUA,  vai valorizar a ala militar do governo com concomitante depreciação  da  influência de Olavo de Carvalho e da ala mais radical e ideológica do governo. (Talvez os mins. Araújo e Salles já devam ir cogitando de limpar suas escrivaninhas …)

 É nesse ponto que ora estamos. Vários analistas assinalam a  insatisfação nas hostes militares com as atitudes e ações desrespeitosas  do presidente e de alguns de seu círculo mais chegado  em relação ao militares do governo. Outros já adiantam que os militares ora cogitam afastar-se do governo. (Ver por exemplo  https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/10/31/parceria-dos-generais-com-governo-bolsonaro-esta-por-um-fio.htm). Mas como fazê-lo?  Dependendo  de como ocorra o afastamento, acaba o governo, de  tal sorte está sustentado pela participação militar em todos os escalões, por mais afastados que estejam das atividades castrenses de origem (mormente  no Min da Saúde! …)

 De minha parte ficaria muito feliz se ocorresse tal afastamento. É minha convicção que a participação maciça dos militares  no governo  Bolsonaro já está acarretando  sério desgaste ao conceito que a população  nutre pelas suas Forças Armadas. E quanto mais demorar tal afastamento, maior será tal desgaste. Simples  assim!