Nº 63 : A CPI – Um divisor de águas?

Enviada em: segunda-feira, 3 de maio de 2021 11:38
Assunto: O Desmonte do Estado Brasileiro e da Soberania Nacional nº 63 : A CPI – Um divisor de águas?

Prezados leitores-amigos,

A destacar, no período compreendido por este Desmonte, a anulação, pelo STF, dos quatro processos criminais da Operação Lava Jato que tramitaram contra o ex-presidente Lula na 13ª Vara Federal de Curitiba, com a consequente  anulação das suas duas condenações. O Supremo ainda decidiu pela  suspeição  do ex-juiz Moro. A tais fatos,  somou-se a instauração, no Senado,  de uma CPI para apurar as responsabilidades do governo na condução da epidemia. Mês de abril muito “quente” politicamente.

Ficando Lula liberado para concorrer às próximas eleições presidenciais, mudou completamente o cenário político. E, não sem razão, Bolsonaro disfarça como pode seu medo de enfrentar o novo oponente potencial. As pesquisas de opinião mais recentes  já apontam  vantagem de Lula em um hipotético segundo turno. Há quem preveja, inclusive, que tal turno venha a ocorrer entre Lula e um candidato do centro. Enquanto isto, diminui a popularidade presidencial, com o aumento dos que lhe conferem grande responsabilidade pelo total de mortos a que atingiu o País. 

E surge o fato mais novo e com potencial explosivo:  a CPI. Será exagerado o destaque dado à sua instauração, com o  título  “Um divisor  de águas”? Alguns analistas já chamaram a atenção para o fato de que, na realidade, poucas CPIs resultaram em eventos mais significativos em termos políticos, sendo o exemplo  mais marcante a que motivou a renúncia de Fernando Collor.  Mas as circunstâncias são outras, muito distintas. E o acúmulo de mortes de brasileiros devido ao temível vírus, que já ultrapassou  400 mil,  é fator relevante a considerar, em conjunção com a grande quantidade de provas sobre a criminosa  condução da crise sanitária (entre outras). E, por maior que seja o esforço de obstrução e de vigilância sobre os depoentes, sempre pode surgir alguma declaração mais bombástica  que pegue o governo no contrapé.

Um fato é certo: à oposição efetiva contra os desígnios declaradamente golpistas do presidente,  até há pouco  a cargo exclusive do STF, soma-se outra frente respeitável: o papel do Senado, via CPI já instalada.

Mexidas as peças no tabuleiro político, algumas reações tornaram-se bem visíveis. Imediatamente após o retorno “oficial” de Lula à vida política, o presidente, em sua primeira live passou a usar máscara (abandonada logo depois …) e, numa demonstração infantil de “recibo” às críticas  de Lula sobre as  crenças negacionistas  que incluem a afirmação de  que a terra é plana,  ostentou na mesa de suas exposições semanais um grande globo terrestre …

Com respeito à CPI, seus efetivos alcances políticos e legais  são ainda pouco perceptíveis. Quanto  aos aspectos legais, a apuração de fatos criminosos que vierem a ser apontados pela Comissão dependerá da PGR para formalização da denúncia  e bem conhecemos o papel leniente – para dizer o mínimo – de seu presidente  Antônio Aras , quando  se trata de apurações contra Bolsonaro.  (Afinal, Aras é candidatíssimo à próxima vaga no Supremo …).  Mas, certamente, o grau de reação da opinião pública  às revelações da CPI terá grande influência e poderá dar o tom das providências subsequentes. 

Como reação bolsonarista clássica à CPI, sentindo-se muito acuado, o presidente disfarça o seu medo com respeito às consequências do ato e  passa a atacar as instituições como fez em outras oportunidades. Desta feita, o alvo dos ataques foram  governadores e prefeitos que adotaram iniciativas mais concretas de afastamento social e – o que e é mais grave – , voltou a  ameaçar o País  com a ação de “seu”  Exército.  (Há notícias que tais menções causam desconforto  crescente na Força Terrestre). 

Na mais grave ocorrência após o malfadado “comício” às portas do Forte Apache (março de 2020), patrocinou, a meu ver, uma audaciosa operação política que compreendeu dois lances: no primeiro, em declarações antes das manifestações de 1º de Maio, em distintas ocasiões, Bolsonaro  declarou  que esperava “sinalização do povo para tomar providências”, sem indicar quais seriam. (A afirmação me recordou o “Não me deixem só”, do Collor, aqui expressa de maneira muito mais agressiva). No meio  a críticas  a governadores e prefeitos, indicou que “país está no limite”. Um dia antes da instalação da CPI (26 de abril), na Bahia, Bolsonaro afirmou que “Está chegando a hora … de o Brasil dar um novo grito de independência. Não podemos admitir alguns pseudo-governadores quererem impor a ditadura …  para subjugá-los”.  Após atacar as Instituições, indicou a conveniência de que não fosse “esticada muito a corda”, seja lá o que isso signifique.. O segundo lance é muito recente e está na lembrança de todos: nos comícios realizados no dia 1º de Maio nas principais capitais, de forma orquestrada, o seu “gado”, após os estímulos recebidos, passou a ostentar faixas e cartazes com os dizeres “Eu Autorizo”, entre brados favoráveis ao fechamento do Congresso e do STF e  a favor da volta da ditadura ao País.

É muito difícil e constrangedor conviver durante todo o período presidencial com um chefe do Executivo que defende continuamente um golpe de estado. Já é mais que passada a hora de Bolsonaro ser afastado do poder, naturalmente por vias constitucionais. Um argumento muito usado pelos que se opõem à iniciativa: “não vale a pena um impeachment pois, afinal, falta pouco para ele cumprir seu mandato” parece muito falacioso, pois o que está em jogo não é o número restante de dias de mandato, mas a capacidade já bem revelada de causar incalculáveis prejuízos à Nação, dia a dia!

Uma coisa é certa em relação à CPI: seus 90 dias previstos de duração serão acompanhados por um grande número de brasileiros, sendo de esperar-se um aumento da impopularidade  do presidente,  já em viés de baixa, fruto das provas que irão sendo apresentadas contra ele e sua equipe.  E, desta feita, a grande mídia não mais poderá furtar-se de  divulgar os fatos como eles são.

Renova-se a sugestão de que este documento seja lido parceladamente, função do maior interesse de cada um pelos assuntos abordados no anexo. Agradeço, finalmente,  a colaboração, sempre bem-vinda, recebida de alguns amigos.

Segue meu abraço cordial e algo esperançoso. Afinal, a situação política parece evoluir favoravelmente, apesar da atuação de personalidades  como os ministros  Fux, Fachin  e Kássio, do STF; do atual PGR Antônio Aras;  e do presidente da Câmara Arthur Lira,  infelizmente, entre muitas outras …. Até o próximo Desmonte! 

Luiz Philippe da Costa Fernandes

ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº  63

1 Pilulas de um governo patético!” – [título meu] –   datas diversas.

– “Estudo: governo federal deixou de gastar R$ 80 bi no combate à pandemia em 2020”  –  07 ABR.

 – “Alertas de desmatamento na Amazônia batem recorde no mês de março” –  09 ABR.   “ … foram, 3269 km²”

– “Bolsonaro fundou uma ‘República da Morte’ e deve responder por homicídio e crime contra a humanidade, conclui comissão da OAB” –  13 ABR.
“Juristas argumentam ainda que o presidente cometeu crimes de responsabilidade; o grupo defende o impeachment…

– “21 Estados e DF recebem mais medicamentos do “kit covid” do que para intubação ” –  16 ABR.
 “Os itens do kit intubação estão em falta em diversos Estados e municípios …O “kit covid” é formado por difosfato de cloroquina, hidroxicloroquina e fosfato de oseltamivir (o tamiflu). Não há estudos científicos que comprovem, conclusivamente, a eficácia desses medicamentos no tratamento da covid-19. Desde junho do ano passado, o Ministério da Saúde remeteu 21,6 milhões de unidades desses fármacos aos Estados e ao Distrito Federal.”

– “Diretor-geral da PF troca delegado que solicitou investigação contra Ricardo Salles” –  17 ABR.
“O diretor geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, trocou o chefe da PF no Amazonas, …  após o titular ter pedido uma investigação contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. …  de acordo com o delegado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira foram apreendidos desde dezembro de 2020 e que a Polícia Federal considera como fruto de ação criminosa. No pedido de investigação contra Salles, o delegado aponta indícios dos crimes de advocacia administrativa, tentativa de obstrução de investigação e de organização criminosa”.Parte superior do formulário

– “Por ordem de Bolsonaro, Exército destravou recursos públicos para produzir cloroquina” –  21 ABR.
“Laboratório do Exército ampliou produção de cloroquina por ordem de Bolsonaro. …  [produzidos]  3,2 milhões de comprimidos de cloroquina para atender a ordem de Bolsonaro, que acarretou um gasto de R$ 1,1 milhão em recursos públicos “ Ver também “Com incentivo de Bolsonaro e Pazuello, farmácias venderam 52 milhões de comprimidos do “kit covid” na pandemia”.

 – Bolsonaro diz ter plano para colocar Forças Armadas nas ruas contra lockdown” –  23 ABR.
“… Jair Bolsonaro afirmou nesta 6ª feira …  que se prepara para um eventual ‘caos no Brasil’Afirmou ainda que pode colocar as Forças Armadas nas ruas para ‘restabelecer todo o artigo 5º da Constituição [que estabelece o direito da livre locomoção no território nacional em tempo de paz]’, em crítica às medidas de restrição decretadas por governadores e prefeitos.”

 O aumento do destempero deve-se à CPI já instaurada no Senado  ...

 

– “Ao citar belezas do país, Bolsonaro diz que Antártica fica no Brasil (vídeo)” –  28 ABR. À atenção do MRE para que a comunidade internacional reconheça nossa soberania sobre a áreaO poder deste homem: com uma simples declaração destruiu o Tratado da Antártica!! ….

2 – “Presente trágico e futuro comprometido: o desmonte da Petrobrás” – Maria Rita Loureiro e Eric Gil Dantas   – Aepet – 08 ABR.
“Impactos desastrosos para o desenvolvimento do país e para o futuro de várias gerações”. “Quando se fala em desmonte [grifo meu] e crise da Petrobrás, é preciso rejeitar a imagem construída pela mídia … de que a empresa foi ‘destruída pela corrupção e pela má gestão’. Sem deixar de rejeitar nem negar práticas ilícitas na empresa – que certamente houve – é necessário ver o que esteve e está por trás desta operação e os efeitos por ela gerados, procurando responder a duas perguntas: 1) Por que as denúncias de corrupção ocorreram a partir de 2014, recaindo justamente na Petrobrás e não em outras empresas públicas, sobre as quais também pairam frequentemente suspeitas graves?  2) Quais os efeitos produzidos pelas investigações, amplamente divulgadas para formar a ‘opinião pública’ de que a Petrobrás seria o ‘antro da maior corrupção da história do país’? “

http://www.fnpetroleiros.org.br/noticias/6570/artigo-presente-tragico-e-futuro-comprometido-o-desmonte-da-petrobras

De forma documentada, os autores que, além  de várias outras credenciais importantes , são  pesquisadores da FGV, respondem, com clareza, às duas indagações constantes do texto. 

3 – “Le Monde destaca como os EUA usaram a Lava Jato em benefício de interesses próprios” – Nicolas Bourcier e Gaspard Estrada247 –  10 ABR.
 “.O que começou como a ‘maior operação contra a corrupção do mundo’ e degenerou no ‘maior escândalo judicial do planeta na verdade não passou de uma estratégia bem-sucedida dos Estados Unidos para minar a autonomia geopolítica brasileira e acabar com a ameaça representada pelo crescimento de empresas que colocariam em risco seus próprios interesses. … Tudo começou em 2007 … . As autoridades norte-americanas estavam incomodadas pela falta de cooperação … com seu programa de combate ao terrorismo … Para contornar o desinteresse …a embaixada dos EUA …   [criou] um grupo de experts locais, simpáticos aos seus interesses e dispostos a aprender seus métodos … Assim … Sergio Moro …  [participou] de um encontro, financiado pelo departamento de estado dos EUA … [quando] fez contato com … representantes do FBI, do Departament of Justice (DOJ) e do próprio Departamento de Estado dos EUA … os EUA … criaram um posto de ‘conselheiro jurídico’ na embaixada brasileira, que ficou a cargo de Moreno-Taxman, especialista em combate à lavagem de dinheiro … Por meio do ‘projeto Pontes’, os EUA garantiram a disseminação de seus métodos, que consistem na criação de grupos de trabalho anticorrupção, aplicação de sua doutrina jurídica (principalmente o sistema de recompensa para as delações), e o compartilhamento ‘informal’ de informações … Qualquer semelhança com a “lava jato” não é mera coincidência. Em 2009, …  Moreno-Taxman foi convidada a falar … em Fortaleza. Diante de mais de 500 profissionais, a norte-americana ensinou os brasileiros a fazer o que os EUA queriam: ‘Em casos de corrupção, é preciso ir atrás do  rei de maneira sistemática e constante, para derrubá-lo …. Para que o Judiciário possa condenar alguém por corrupção, é preciso que o povo odeie essa pessoa’ … Em 2013, … o Congresso brasileiro começou a votar a lei anticorrupção.  .. [incorporando] mecanismos previstos no Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), uma lei que permite que os EUA investiguem e punam fatos ocorridos em outros países. Para especialistas, ela é instrumento de exercício de poder econômico e político dos norte-americanos no mundo. Dilma Rousseff, …  sancionou a lei, apesar dos alertas. …  Em 17 de março, o procurador-geral … Rodrigo Janot, chancelou a criação da ‘força-tarefa da lava jato’. Desde seu surgimento … ‘A orquestração das prisões e o ritmo da atuação do Ministério Público e de Moro transformaram a operação em uma verdadeira novela político-judicial sem precedentes’, afirmam Bourcier e Estrada. … Leslie Caldwell, procuradora-adjunta do DOJ, afirmou … em novembro de 2014: ‘A luta contra a corrupção estrangeira não é um serviço que nós prestamos à comunidade internacional, mas sim uma medida de fiscalização necessária para proteger nossos próprios interesses em questões de segurança nacional e o das nossas empresas, para que sejam competitivas globalmente.’ O que mais preocupava os EUA era a autonomia da política externa brasileira e a ascensão do país como uma potência econômica e geopolítica regional na América do Sul e na África, para onde as empreiteiras brasileiras Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS começavam a expandir seus negócios … . … A tarefa ficou … mais difícil depois que Edward Snowden mostrou que a NSA (agência de segurança dos EUA) espionava a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras … . Em 2015, os procuradores brasileiros, para dar mostras de boa vontade, organizaram uma reunião secreta para [colocar o americanos] a par das investigações da “lava jato”…  Eles entregaram tudo o que os americanos precisavam para detonar os planos de autonomia geopolítica brasileiros, cobrando um preço vergonhoso: que parte do dinheiro recuperado pela aplicação do FCPA voltasse para o Brasil, especificamente para um fundo gerido pela própria ‘lava jato’ … em 2015 Dilma decidiu chamar Lula para compor seu governo, uma manobra derradeira para tentar salvar sua coalizão de governo, …  Foi quando … Moro autorizou a divulgação ilegal da interceptação ilegal de um telefonema entre Lula e Dilma, informando a Globo, no que veio a cimentar o clima político para [o] …  impeachment. Moro, depois, pediu escusas pela série de ilegalidades, e o caso ficou por isso mesmo. …  com conhecimento de causa … as autoridades norte-americanas celebraram acordo de ‘colaboração’ com a Odebrecht, em 2016. O documento previa o reconhecimento de atos de corrupção não apenas no Brasil, mas em outros países … … Caso recusasse, a Odebrecht teria suas contas sequestradas, situação que excluiria o conglomerado do sistema financeiro internacional e poderia levar à falência. … . Em maio de 2019, o The Intercept Brasil começou a divulgar conversas de Telegram entre procuradores e Moro, … apreendidas pela Polícia Federal sob o comando do próprio Moro, enquanto ministro da Justiça. Elas mostram, entre outros escândalos, como Moro orientou os procuradores, e como estes últimos informaram os EUA e a Suíça sobre as investigações e combinaram a divisão do dinheiro.

https://www.brasil247.com/midia/le-monde-destaca-como-os-eua-usaram-a-lava-jato-em-beneficio-de-interesses-proprios

Resumo um pouco longo, mas necessário para que se  possa  bem avaliar a gravidade das informações do influente jornal francês. Dos mesmos autores, veja também o artigo “O naufrágio da operação anticorrupção ‘Lava Jato’”, com novos enfoques sobre a matéria .(Em https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Que-Justica-e-essa-/O-naufragio-da-operacao-anticorrupcao-Lava-Jato-/62/50338 )

4 – “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil? –  Paulo Kliass   – Carta Maior –  13 ABR.
“A frase foi pronunciada [por] … Juracy Magalhães, logo depois de ter sido nomeado embaixador do Brasil nos Estados Unidos pelo governo militar que depôs   João Goulart em 1º de abril de 1964 …  A indicação realizada pelo Marechal Castello Branco … poucos meses depois do golpe, confirmou a tendência das elites brasileiras em aceitarem uma postura passiva de ‘derrotar o comunismo’ a qualquer custo. Essa postura reflete a mais absoluta falta de estratégia para construção de um projeto nacional de sociedade e parece delegar a outra nação tal incumbência. … felizmente outras forças parecem terem interferido no processo e a própria tradição do Itamaraty permitiu uma correção de rumo na perante os desejos e interesses dos norte-americanos em termos geopolíticos, econômicos, sociais e culturais. … Mesmo durante a ditadura o Brasil manteve uma relativa autonomia na condução de sua orientação para as relações exteriores, participando de articulações de aproximação com países não alinhados e de outras inciativas menos bajuladoras dos interesses ianques. Já a eleição de Donald Trump e a infeliz coincidência com a chegada de Bolsonaro ao poder ….. recoloca a questão do alinhamento automático em outro patamar. O Brasil abandona qualquer tipo de pretensão de desempenhar um papel relevante no cenário internacional e passa a ser apenas um peão a mais nas mãos da diplomacia norte-americana. A bajulação passa ser sistemática e o chanceler brasileiro se orgulhava de transformar nosso país em um pária internacional. No entanto, com o … agravamento da nossa crise interna e da ruptura de canais de intermediação com os parceiros pelo mundo afora, mais uma vez parte das elites começa a perceber que o aforismo do udenista precisava mais uma vez ser relativizado. … A chegada de Biden reorienta as políticas públicas para esse fato novo, que demanda medidas urgentes … . De um lado, tem início um forte movimento para vacinação em massa e em grande escala da população. De outro lado, o governo decide pela adoção de pacotes expressivos de recursos públicos para ajudar na retomada do crescimento das atividades econômicas e na ajuda às empresas e famílias em dificuldades. Os efeitos em algumas variáveis são quase imediatos. …  Ou seja, em menos de três meses aumentamos em mais de 300% os óbitos, enquanto os norte-americanos viram as mortes serem reduzidas em 65%. Outra iniciativa relevante foi o estímulo à vacinação em massa.  No início do governo Biden, a taxa era apenas de 0,65% e o Brasil nem havia começado sua campanha. Atualmente, menos de 3 meses depois, os Estados Unidos atingiram a marca de 22% da população plenamente vacinada e o Brasil está em 3% apenas. Outra frente de ação do governo Biden foi na seara fiscal. O novo presidente parece ter abandonado a rigidez dogmática da austeridade fiscal e encaminhou medidas determinando a elevação expressiva das despesas orçamentárias inicialmente previstas, sempre com o objetivo de combater a pandemia e seus efeitos negativos para economia e para sociedade. … Atualmente está em fase final de elaboração um novo conjunto de medidas no [que] deverá atingir algo próximo a US$ 5 trilhões. Esse valor representa em torno de 25% do PIB daquele país … . Trata-se de uma iniciativa necessária e corajosa, … Além disso, uma nova ordem econômica parece estar em construção para substituir os dogmas ultrapassados no neoliberalismo, tal como estabelecidos no defunto Consenso de Washington da década de 1980. Se é bom para o Brasil, então mãos à obra. Uma simples comparação com o caso brasileiro nos permite identificar o nível de atraso em que nos encontramos nesse debate e na adoção de tais medidas. Nosso PIB está avaliado em torno de R$ 7,4 trilhões. Caso o governo brasileiro resolvesse adotar uma estratégia similar e de potência semelhante, caberia um pacote de ajuda no valor de R$ 1,8 trilhão. Porém, vige uma subestimação das necessidades para o enfrentamento da guerra contra a pandemia, ao tempo em que seguem as adorações imaculadas aos altares da austeridade fiscal … . E o governo continua se negando a comprar vacinas e a adotar um programa de auxílio emergencial com um benefício mensal mínimo de R$ 600 enquanto durar a pandemia. Um verdadeiro crime contra o país e seu povo. Talvez seja mais do que passada a hora de nossas elites se inspirarem na frase de Juracy Magalhães. Se for bom mesmo para o Brasil, então o caminho passa por retirar um governo genocida e negacionista do poder e adotar um programa econômico com previsão das despesas necessárias para derrotar a pandemia e recuperar a trilha do crescimento e do desenvolvimento.”

https://www.cartamaior.com.br/?/Editorhttpsia/Economia-Politica/O-que-e-bom-para-os-EUA-e-bom-para-o-Brasil-/7/50357

Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal. Endosso a conveniência de apear logo do poder, naturalmente via constitucional, o governanante que tanto mal faz ao País.

 

5 – “Tempos estranhos: sociedade dividida e igreja a serviço de um projeto político” Rubens Barbosa O Estado de S.Paulo –    13 ABR.
 “… A sociedade está dividida e polarizada, … até pelas dificuldades decorrentes da pandemia. A perplexidade aumenta na medida em que … se verifica a maneira como a … crise do combate à covid-19, fora de controle, está sendo conduzida; pela ameaça de um enfrentamento fratricida pela facilitação da venda e do porte de armas e munições; pela inexplicada crise militar com a demissão da cúpula da Defesa; pelo desmonte do combate à corrupção; pela crescente influência das milícias e do tráfico de drogas; pela chocante visibilidade da desigualdade social; pela falta de perspectivas e de uma visão de futuro para o País. A tudo isso se junta agora a … discussão sobre atividades religiosas coletivas em templos e igrejas durante a pandemia. As apresentações terrivelmente evangélicas feitas no STF pelo advogado-geral da União e pelos advogados … trouxeram à tona, mais uma vez, a questão da laicidade do Estado brasileiro. … . Estado laico é o que promove … a separação entre Estado e religião. A partir dessa separação, o Estado não deveria permitir a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, … Com a República, o Estado brasileiro tornou-se um Estado moderno, no qual não se busca a satisfação espiritual, mas a expansão dos direitos humanos e das liberdades individuais. … . Como já foi dito por ministro do STF, ‘os dogmas de fé não podem determinar o conteúdo dos atos estatais’ e ‘as concepções morais religiosas …  não podem guiar as decisões de Estado …’. Nos últimos anos, o que se viu foi o contrário.  … Embora não se constituindo em movimento único, pois há divergências entre elas, a influência das igrejas evangélicas, em especial a Universal, aumentou significativamente e ganhou força política real. Sua eficiente arrecadação entre fiéis … e sua capacidade televisiva e radiofônica, além da mídia impressa e de partidos políticos, estão a serviço de um projeto político. Não é segredo … que os evangélicos buscam alcançar, … o poder máximo da República, depois de eleger prefeitos, governadores, senadores, deputados e ministros das Cortes de Justiça. A Igreja Universal ataca a Igreja Católica e exerce uma ação voltada para assumir a hegemonia do Estado. …  É surpreendente que representantes da … Igreja Católica … não se tenham manifestado até aqui …  Estamos diante de um problema político sério que a direita evangélica traz para a democracia … . Trata-se, na realidade, de um problema de dominação por uma minoria e de reação contra o pluralismo.”

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,questao-religiosa,70003679065  (para assinantes)

 Como bem demonstra  o  conhecido ex-diplomata, a frenética ação política das igrejas neopentecostais  configura um sério problema, que acaba por afetar os próprios princípios democráticos do País, contribuindo para o desmonte das Instituições. A propoósito , lembra-se que o STF STF decidiu manter fechados templos e igrejas pelo placar  de seis votos a dois.

6– “’Basta de genocídio’, diz Miguel Nicolelis, que exige o Fora Bolsonaro” – Miguel Nicolelis  – 247 (originalmente em O Globo)  – 15 ABR.  ” … Rotulado … pela imprensa internacional como inimigo público número 1 do combate à pandemia … [Bolsonaro]  deu claras demonstrações públicas … de estar perdendo qualquer tipo de controle … do caos semeado por ele mesmo … . Acuado pela decisão do STF de obrigar o … Senado …  a instalar uma CPI para investigar a conduta do governo federal …  tendo sua tentativa de interferência nas Forças Armadas repudiada simultaneamente pelos comandantes das três Armas, … [Bolsonaro] parece ter achado um novo moinho de vento para chamar de seu inimigo preferido: os cientistas. Numa declaração proferida aos berros … em Brasília, [Bolsonaro]  vociferou contra toda a comunidade científica brasileira (e mundial, presume-se) nos seguintes termos: ‘Cientistas canalhas, se não têm nenhum remédio para indicar, cale a boca e deixe (sic) o médico trabalhar’.  Ao indivíduo que transformou imagens de infindáveis fileiras de covas rasas, sendo abertas às pressas … …,,[levou] o Brasil ao ponto em que as mortes em um mês podem superar os nascimentos pela primeira vez, ao gestor que impediu a compra de dezenas de milhões de vacinas quando … ainda …  disponíveis …, ao propagandista que estimulou a população a usar medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada contra o coronavírus, ao presidente que nunca ofereceu uma palavra de consolo … a uma nação ferida e golpeada mortalmente …  e que negou qualquer ajuda digna a milhões de brasileiros que … convivem com a perda irreparável de seus entes amados, enquanto tendo de tomar a monstruosa decisão entre morrer de fome ou de Covid-19, a Ciência e os cientistas brasileiros só têm uma reposta a oferecer: Basta! …  é preciso dar um “Basta!” definitivo … aos inúmeros crimes perpetrados contra os brasileiros de hoje e os que ainda hão de nascer, antes que seja tarde …Tarde demais para salvar centenas de milhares de vidas que ainda podem ser salvas; tarde demais para salvar o que resta das instituições e da democracia brasileira; tarde demais para evitar que o país cruze o limiar de um ponto de onde serão precisos anos ou décadas para que dele se possa retornar. Em nome dos 362.180 brasileiros que pagaram com a própria vida pelo maior ato de incompetência e inépcia da nossa história, …  e, … em nome da garantia de um futuro digno para futuras gerações de brasileiros, chegou a hora de remover do posto o carcereiro inominável que nos transformou a todos em prisioneiros, potencialmente condenados à morte, seja de fome ou de asfixia; isolados de todo o mundo e vivendo diariamente à mercê dos delírios e desmandos de alguém que, por atos e palavras, renunciou voluntariamente a suas responsabilidades constitucionais de proteger, a qualquer custo, o povo brasileiro de uma guerra de extermínio contra um inimigo letal.”

 https://www.brasil247.com/coronavirus/basta-de-genocidio-diz-miguel-nicolelis-que-exige-o-fora-bolsonaro

Nicolelis, médico, neurocientista e professor catedrático da Universidade Duke, é,  talvez, o cientista brasileiro de maior renome no Brasil e no exterior. A divulgação de um artigo como este tem enorme repercussão na comunidade científica nacional e internacional. E, certamente, repercussões também políticas.  Cabe indicar que ora (dia 1º de maio) o nº de mortos já ultrapassa 400 mil!

7 – “Ricardo Salles: 13 fatos que fazem do ministro uma ameaça ao meio ambiente global” –  –  21 ABR.   Pela extensão do texto, serão enunciados, a seguir, apenas os “13 fatos” a que se refere o título da matéria, sem os comentários a que cada um deles daria margem: Desmatamento recorde (O desmatamento da Amazônia tem batido recordes.); Incêndios florestais (Em 2020, o número de queimadas foi o maior desde 2010); Aliança com madeireiros ilegais; Negacionismo climático; Desmonte da fiscalização; Aliança com garimpeiros ilegais; Desmonte do Ibama e do ICMBio; Extinção de unidades de conservação; Manchas de óleo no litoral do Nordeste; Extração de petróleo em Abrolhos; Ataque a manguezais e restinga; Ricardo Salles contra a Mata Atlântica; Condenado por improbidade.

https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2021/04/ricardo-salles-13-fatos-que-fazem-do-ministro-uma-ameaca-ao-meio-ambiente-global/

Sob a “competente” direção ministerial de Salles  concretiza-se, com rapidez e rara  eficácia, o desmonte da política ambiental do governo, consoante, aliás, as diretrizes do próprio presidente) …  Ver, a propósito, “Ibama exonera chefe que fiscalizou 100% da madeira nativa no 2º maior porto do país(https://www.folhape.com.br/noticias/ibama-exonera-chefe-que-fiscalizou-100-da-madeira-nativa-no-2o-maior/180874/  )

 8 – “Enquanto se discute se vai ou não haver golpe, ele vai acontecendo diariamente aos poucos na nossa cara” Blog do Mello  –  23 ABR.  
 Essa … é a tese que defende o jornalista Eugênio Bucci em sua coluna no Estadão [O golpe em gerúndio – A democracia neste cemitério chamado Brasil já está em pleno desmanche]. Uns dizem que o presidente da República é tão despreparado, tão destrambelhado,… que não consegue organizar nem mesmo uma quartelada. Dizem que, por aqui, não virá golpe de Estado nenhum. Chance zero. … . Aparentando segurança e calma, estão certos de que as instituições resistirão até 2022 e o presidente … será derrotado nas urnas. Falar em impeachment agora é perda de tempo,… .Talvez seja verdade que não virá nenhum golpe de arromba por aí. … é ainda mais verdade que vem vindo, já faz um tempo, um golpe menos espetaculoso, um golpe em processo, …  Enquanto o golpe retumbante não chega, outro golpe vai se adensando,…  – em surdo gerúndio… Enquanto uns e outros pensam que vão comer o bolsonarismo pelas bordas, o bolsonarismo está comendo o Estado por dentro. …  uns e outros dizem que as instituições funcionam ‘normalmente’. ‘Normalmente’  como, cara-pálida? A democracia deste cemitério congestionado chamado Brasil não está mais sob ameaça: já está em pleno desmanche, só estão ficando de pé as fachadas. … Exemplos?…  Intervenções brandas e brutas na Polícia Federal … Perseguições ideológicas contra setores da cultura, …  Olhemos para a devastação da ciência, para o … torniquete orçamentário que vai desativando o sustento da educação, para a metamorfose … que fez do Ministério da Saúde uma usina de estatísticas sobre cadáveres. … o  extermínio das melhores tradições diplomáticas do Itamaraty.[A situação]  vai dizimando até carreiras de Estado, como a dos fiscais … investidos do poder de vigiar crimes contra o meio ambiente.  Quantos anos serão necessários para reconstruir o Brasil, para reflorestar a terra ardente, para reavivar os instrumentos institucionais que fazem uma democracia funcionar? Felizmente, em resposta a esse golpe em gerúndio começa a aparecer uma reação, também em gerúndio. Mudanças substanciais estão acontecendo no país nos últimos dias, com possibilidades de implodir o golpe, como a CPI do Genocídio, recém instalada no Senado e …  os julgamentos no STF, que anularam as sentenças contra Lula e condenaram o ex-Moro. A CPI e Lula livre estão transformando o comportamento de Bolsonaro e assanhando a direita e o Mercado em busca de uma terceira via … “

https://www.blogdomello.org/2021/04/enquanto-se-discute-se-vai-ou-nao-haver.html

Observem que a publicação original ocorreu no Estadão, Parece significativo que o jornal que é o baluarte do conservadorismo paulista  publique a presente matéria.  Amplia-se a oposição a Bolsonaro a  áreas insuspeitas até algum tempo atrás ...

 

 

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