Prezados leitores/amigos,
Aos que, pacientemente, vem acompanhando estes Desmontes, cabe informar que faltam apenas mais 11 exemplares para a série chegar ao fim! De fato, o último número a ser divulgado será o 83 (correspondente ao mês de dezembro de 2022). Graças a Deus, tudo indica que, em janeiro de 2023, já teremos um novo Presidente empossado! E, seguramente, seja qual for (tenho minhas preferências … ) será muitíssimo superior ao mandatário que está a conduzir o atual (des)governo do País!
Neste Desmonte, é atribuída alguma ênfase ao papel do militares no governo. É fato – indesejável, pois tal não ocorre em países mais maduros democraticamene – que sua aderência aos valores constitucionais é condição fundamental à garantia das Instituições em nosso País.
A respeito, faz sentido alguma preocupação com certas notícias que adiantam que setores militares, desgostosos com Bolsonaro, ensaiam um apoio ao Moro. (e ,g. “Militares percebem que Bolsonaro irá para o lixo da História e optam por Moro”). A terem foro de verdade, isto estaria a revelar uma grande falta de sensibilidade histórica e política. Já não teria sido suficiente o desgaste causado pela proximidade militar ao atual Governo?. Pretendem agora ainda mais prejudicar a sua imagem, com o apoio a um ex-juiz comprovadamente parcial, que deslustra a nossa Justiça e que praticamente extinguiu a nossa indústria de construção pesada em prol das empreiteiras americanas, mesmo que a custa de muitos milhares de empregos perdidos? Que tem vínculos com os Estados Unidos no mínimo preocupantes, senão criminosos? Que afastou deliberadamente da corrida presidencial o candidato mais bem colocado, acabando por condená-lo injustamente à prisão – como reconhecido pelo STF? E é este mesmo candidato que ora lidera, com folga, a disputa presidencial, falando-se mesmo na possibilidade concreta de uma vitória sua no primeiro turno. Certo que muita agua ainda falta rolar até as eleições mas ,,, os fatos estão ai. A meu ver, qualquer manifestação de simpatia das FFAA a tal ou qual candidato deve ser evitada, por descabida e prejudicial ao País.
No Anexo, minha atenção foi vivamente atraída pelo artigo intitulado “Lição de golpismo”. Parece de interesse que o leitor complemente a leitura de tal texto com a entrevista concedida por Noam Chomsky – ““ Noam Chomsky: um ano após ataque ao Capitólio, o golpe continua em curso” (CJ Polychroniou). Cogitei de reproduzi-la neste Desmonte mas a tarefa revelou-se muito difícil, De fato, trata-se texto algo extenso e muito denso em ideias. E – note-se –, o grande interesse do escrito do Chomsky deriva do fato de ser quase impossível deixar de contrapô-lo à nossa atual realidade, sob Bolsonaro. Sobreleva uma pequena satisfação íntima, se podemos assim classificá-la.: não estamos sós em nossa cruzada de estupidez política que possibilitou a vitória do “Mito”. A Democracia que serve (serviu?) de modelo para o mundo ocidental já passou por circunstâncias lamentáveis semelhantes, senão piores e – surreal – corre o risco de voltar a experimentá-las!! É minha intenção disseminar a entrevista por msg, da após o encaminhamento desta coletânea.
Abraços do Luiz Philippe da Costa Fernandes
PS – Já quase no encaminhamento do Desmonte, deparei-me com a criação de mais uma crise, por parte de Bolsonaro. Ele descumpriu, ontem, deliberadamente, determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes e faltou ao depoimento marcado na Polícia Federal para apurar o vazamento de documentos sigilosos de uma investigação da PF a respeito de ataque hacker ao TSE, O AGU impetrou um agravo ao plenário do Supremo argumentando que, por ser investigado no inquérito, Bolsonaro não seria obrigado a comparecer. O ministro Moraes negou o recurso. Pronto! Está criada nova crise, sendo de supor-se que, com a passagem do tempo – confirmando-se cabalmente a derrota eleitoral de Bolsonaro -– elas venham a suceder-se, em um crescendo de intensidade, tudo visando criar condições para um segundo “Sete de Setembro”, que seria algo como a sua “cartada final”.
ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº 72
1 – “Pilulas de um governo patético!” – [título meu] – datas diversas.
– “Militares gastaram verba contra a covid-19 com filé mignon e picanha – 27 DEZ.
“O Ministério da Defesa gastou recursos destinados ao enfrentamento da Covid-19 para a compra de filé mignon e picanha. A constatação é de uma auditoria do TCU … Segundo informações do levantamento sigiloso … obtido pela Folha, foram usados R$ 535 mil em itens considerados de luxo, escreve a jornalista [Constanza Rezende]”.
Notícias como esta, exploradas pela mídia, contribuem, em boa medida, para o descrédito das FFFAA junto à população.
– “Moro confessa que Lava Jato foi projeto político para combater o Partido dos Trabalhadores” – 29 DEZ.
“A confissão foi feita em entrevista a uma rádio. Para derrubar o partido, o ex-juiz parcial também destruiu empresas brasileiras e o sistema judicial.” .
E é este homem que ainda se apresenta para ser presidente do País! Ver também “Kakay reage à confissão de Moro e vaticina: ‘este canalha vai sangrar ao ser investigado’”.
– “ STF pressiona Aras a dar andamento ágil às investigações sobre delitos de Jair Bolsonaro e aliados” – 01 JAN.
“Ministros do STF, entre estes Carmen Lúcia, exigem maior supervisão das chamadas investigações preliminares abertas pela PGR.”
Cidadão que não tem estatura moral para ser PGR, mormente na atual quadra política. ...
– “Miriam Leitão alerta: Bolsonaro tentará melar o jogo democrático” – 02 JAN.
“Jornalista, que apoiou o golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff, diz que nenhum governo mereceu tanto o impeachment como o atual”.
É a mesma opinião de Jânio de Freitas, exposta ao final do ano passado (Janio de Freitas alerta: Bolsonaro não desistiu de um golpe de estado em 2022). Aqui, a jornalista afirma que aumentos salariais para policiais são parte deste plano sinistro. Aliás, é o que todo o Brasil acha, com exceção do Lira e do Aras ...
– “Em novo ataque ao meio ambiente, Bolsonaro sanciona projeto que acaba com proteção a matas em margens de rios” – 04 JAN.
“O projeto que permite o desmatamento em margens de rios nas zonas urbanas e a regularização de imóveis construídos em Áreas de Preservação Permanente … foi transformado em lei pelo presidente Jair Bolsonaro. Considerada por parlamentares e ambientalistas um dos mais graves ataques à legislação ambiental dos últimos anos, a nova lei atinge em cheio o Código Florestal, que determinava em todo território nacional faixas de proteção entre 30 e 500 metros, dependendo da largura do curso d’água”.
– “‘Estou morrendo. A coisa está ruim’, disse Bolsonaro ao médico sobre obstrução intestinal” – 5 JAN.
“Antônio Luiz Macedo [médico de Bolsonaro convocado do exterior para atende-lo] disse que Bolsonaro ligou ‘chorando de dor’ e com medo da morte após almoço de férias indigesto”
Sem dúvida a indigestão mais cara aos cofres públicos que ocorreu na República!
– “FUP denuncia que Petrobrás gasta R$ 3 bi ao ano para alugar gasodutos que privatizou – 09 JAN.”
“A Petrobras está pagando cerca de R$ 3 bilhões ao ano para utilizar os gasodutos da Transportadora Associada de Gás S.A. (TAG), empresa que a estatal vendeu por cerca de R $36 bilhões, mesmo sabendo que iria aumentar a produção, ou seja, ia precisar ainda mais dos gasodutos para distribuir petróleo e gás, denuncia a Federação Única dos Petroleiros (FUP). A entidade argumenta que, com a privatização, em pelo menos 10 anos, a Petrobras vai gastar todo o ‘lucro’ com a venda do ativo em pagamento de aluguel do gasoduto que antes fazia parte do seu patrimônio. E vai continuar gastando, já que a sua distribuição passa pela TAG.’
.. Parte da alentada série de desmontes que assola a Petrobras ,,,
– “Bolsonaro volta a confrontar STF e ataca Barroso e Moraes: ‘quem eles pensam que são?’” – 12 JAN.
“Jair Bolsonaro voltou a atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso nesta quarta-feira (12). ‘Quem eles pensam que são?’, questionou. Bolsonaro é alvo de cinco inquéritos no STF, quatro deles têm Moraes como relator, e de um inquérito administrativo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido por Barroso. Bolsonaro também afirmou que Barroso entende de ‘terrorismo’ e acusou Moraes de atuar fora das regras constitucionais.”
Alguém, em sã consciência, pode acreditar que Bolsonro seja capaz de respeitar as Instituições?
– “MP pede multa de R$ 2 milhões para Salles e mais 12 por motociata de apoio a Bolsonaro” – 12 JAN.
“Além do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o empresário Tomé Abduch, ligado ao movimento ‘Nas Ruas’, também é citado na ação. ‘O Presidente, seus ministros, deputados de sua base de apoio, os organizadores e lideranças do ato em tela desrespeitaram completamente as leis e os decretos em vigor no País. E o fizeram sem peias, de forma clara, à luz solar, sob as câmeras e microfones da imprensa brasileira, como péssimo exemplo ao conjunto do povo brasileiro’, ressaltou o promotor Arthur Pinto Filho no texto do documento.”
– “Governo Bolsonaro bate próprio recorde e libera uso de 550 novos agrotóxicos em 2021 – 12 JAN.
“Total é o maior desde 2000. Pesquisadores e quilombolas alertam que produtos afetam saúde de seres humanos e animais, solo, ar e água.”
O assunto é tão importante, pelos óbvios reflexos negativos à própria saúde do brasileiro, que não hesito em voltar a ele, volta e meia. Aqui, sou obrigado, a contragosto, a realçar um fato que não deixa bem a Anvisa, a mesma Agência que, devido a uma nota recente de seu Diretor Presidente – Alte. Barra Torres – mereceu, com toda justiça, os maiores encômios em âmbito nacional. A autorização para que tais agrotóxicos sejam, usados no País é de responsabilidade daquela Agência!, Muito estimaria receber explicações a respeito.
– “Gaspari destaca decisão da BlackRock de não mais investir no Brasil enquanto Bolsonaro estiver no poder” – 16 JAN.
“‘O gestor do fundo de investimentos BlackRock para a América Latina avisou que não botará dinheiro no Brasil enquanto Bolsonaro estiver no Planalto. Com uma carteira de US$ 9,5 trilhões, é o maior do mundo, opera em cem países com o olho em negócios de longo prazo’, destaca o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna na Folha.”
– “Desmatamento da Amazônia cresce 29% em 2021 e é o maior em dez anos” – 18 JAN.
“Segundo o Imazon [Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia], o desmatamento alcançou 10.362 km² de mata nativa e 47% do total foi registrado em florestas públicas federais”
– “‘Quero que me tratem com o respeito que o Brasil merece’, diz Lula em recado aos EUA” – 19 JAN.
“‘Como é que eu vou tratar os Estados Unidos? Trato com o respeito que eu acho que eles merecem, mas quero que me tratem com o respeito que o Brasil merece. Eles têm que compreender que o Brasil é o país mais importante da América Latina, o maior em população, o maior economicamente e o Brasil tem interesse em crescer junto com todos os países da América Latina e da América do Sul. E o Brasil pode ser um grande protagonista’, afirmou. ‘O que os Estados Unidos precisam aprender é que o Brasil não é serviçal deles. O Brasil é um país soberano, que define sua política externa. Da mesma forma que o Brasil respeita a política externa dos Estados Unidos, queremos que eles respeitem a política externa do Brasil. É só isso. Não somos quintal de ninguém’.”
Tais declarações constituem-se verdadeira música para ouvidos que – infelizmente – acostumaram-se, nesses últimos cinco anos, a escutarem sons desafinados provenientes de uma política externa tacanha, atrelada aos interesses americanos, que acabou por destruir a grande credibilidade de que gozávamos, construída no governo Lula. Praticamente chegou a termo o desmonte de nossa política externa.
– “Advogado do clã Bolsonaro, Wassef consegue liberar na Justiça madeira retida na gestão de Salles” – 19 JAN.
“O também advogado do presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu liminar no TRF-1 representando a MDP Transportes”
O desembargador do TRF-1 que concedeu a medida – Ney Bello – é candidato à próxima vaga no STJ. A indicação será feita por Bolsonaro, a partir de uma lista tríplice enviada ao Palácio do Planalto. A lista dos indicados será definida em fevereiro.
– “Lista de privatizações sob o (des)governo Bolsonaro”.
Até agora, 227 bilhões de reais é o valor aproximado das privatizações sob Bolsonaro. Ver Quadro abaixo:
– “Brasil cai em ranking mundial de percepção de corrupção e ocupa sua terceira pior posição na história” – 25 JAN.
“O Brasil caiu para 96º lugar no ranking mundial de percepção de corrupção, calculado pela instituição Transparência Internacional. A colocação é a terceira pior em sua série histórica. … O índice de percepção de corrupção, elaborado desde 1995, é feito a partir da análise de dados, pesquisas e avaliações de especialistas e materializado em uma escala de 0 a 100. Quanto mais perto do 100, menor a percepção de corrupção na administração pública do país. O Brasil obteve 38 pontos, o que coloca o país abaixo da média global, que é de 43 pontos, e abaixo da média regional da América Latina e Caribe (41 pontos).”
Ué! Uma das bandeiras de Bolsonaro, que continua apregoada, não é o combate à corrupção?
2 – “‘Corrupção do Judiciário é a mais grave de todas’, diz Alfredo Attié” – 247 –31 DEZ.
“‘Se o Judiciário se corrompe, então nós estamos diante de um problema seríssimo, que não pode se repetir’”, enfatiza o desembargador. O desembargador Alfredo Attié, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), afirmou … que a confissão do ex-juiz parcial Sergio Moro, de que usou a Lava Jato para combater o PT, e não a corrupção, representa a corrupção dentro do Poder Judiciário e merece investigação. ‘é preciso que tudo isso que foi feito pelo Moro, pelo Ministério Público e Polícia Federal, nesta grande armação que foi o lavajatismo, mereça investigação por meio de processos administrativos e judiciais. A gente precisa de muito Direito agora, para evitar que tudo isso que aconteceu no Brasil, que gerou esse governo horroroso – que nós estamos sofrendo ainda – volte a acontecer’, pontua. Attié destacou que, julgado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Moro não agiu como juiz, mas como parte. Alguém que estava interessado no destino dos processos que encabeçava. ‘A vara que ele [Moro] estava foi julgada pelo STF como uma vara que não tinha competência, jurisdição para julgar aqueles casos. Uma jurisdição que é chamada tradicionalmente como uma jurisdição de exceção. Ou seja, alguém diz que vai julgar mas não tem competência para isso’, esclarece. O desembargador destaca ainda que a suspeição se perpetuou no interior do Judiciário, pois no julgamento do recurso feito contra a sentença do triplex do Guarujá, em que o ex-juiz Moro foi considerado suspeito e incompetente, foram feitos elogios a ele, inclusive, vindo de desembargador que à época era o presidente daquele tribunal e que não participava do caso. ‘Isso significa a corrupção do sistema Judiciário. … A corrupção é o abuso do poder, e quando esse abuso se dá por um juiz, pelo Judiciário ou pelas pessoas que estão ligadas ao Judiciário, é o maior escândalo, pois o Judiciário é o lugar onde todo mundo tem que confiar quando sofre uma violência, lesão ou abuso’, completou. Como se sabe, depois da Lava Jato, o país viu a economia encolher. Segundo levantamento do Dieese … o Brasil perdeu 4,4 milhões de empregos e houve um desinvestimento de mais de R$ 170 bilhões. A maior empresa de engenharia brasileira, a Odebrecht, quase foi levada à falência e a Petrobrás perdeu valor. O Brasil era a sexta economia do mundo e não está mais nem entre as dez maiores”. https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/corrupcao-do-judiciario-e-a-mais-grave-de-todas-diz-alfredo-attie .
A propósito, cabe relembrar aaui o papel patético do TRF-4, que chegou a aumentar de nove para 11 anos e um mês a pena imposta pelo Moro. já de per si descabida, pois não se fundamentava em nenhuma prova. Tal vergonha viria a repetir-se posteriormente no STJ , onde faltou coragem moral para fazer prevalecer o verdadeiro sentimento de Justiça.
3 – “Exército prevê incidentes violentos na eleição de 2022 e muda planejamento anual” – 247 – 06 JAN.
“ Temendo incidentes de violência na eleição de outubro ou depois do pleito, o Exército Brasileiro decidiu alterar o seu cronograma de trabalho em 2022. Todos os 67 exercícios militares principais previstos para o ano, que se concentram no último trimestre, foram adiantados e deverão ser executados até no máximo setembro. Depois disso, todo o efetivo da Força tem de estar à disposição para eventuais necessidades. As conversas do Alto-Comando do Exército sempre giram em torno do tema da polarização, levando em conta o cenário atual das pesquisas eleitorais, informa o jornalista Igor Gielow na Folha de S.Paulo, referindo-se a uma disputa em que o ex-presidente .. Lula … sai com favoritismo, buscando ganhar no primeiro turno, e na qual o atual titular do Planalto, Jair Bolsonaro, ainda ocupa a segunda posição, apesar da precariedade da curva de seus números. Generais e outros oficiais temem que a animosidade que consideram inevitável entre os dois grupos possa descambar para incidentes pontuais de violência ou contaminar discussões nas disputas estaduais —levando ao eventual pedido de socorro às Forças Armadas, que já estarão mobilizadas para o pleito deste ano. Nos bastidores, oficiais de alta patente especulam sobre como os bolsonaristas, principalmente integrantes das polícias militares, reagirão em caso de derrota do atual ocupante do Palácio do Planalto.”
Esta notícia, caso verdadeira, indica com muita clareza a preocupação do EB com a possibilidade de atos de indisciplina e revolta por parte de integrantes de algumas polícias militares estaduais, função da derrota de Bolsonaro nas próximas eleições, É um enorme alento ao perfeito funcionamento das Instituições democráticas do País. Se considerada em conjunto com outra, sobre a posição do Exército, também conhecida no mesmo dia (“Exército diz que militares devem se vacinar e não divulgar notícias falsas”), onde se informa que foi disseminado internamente naquela Força um documento com 52 orientações que estabelecem regras para o retorno dos militares e servidores às atividades presenciais, considerando a vacinação prévia e o uso de máscaras e inclui proibição de espalhar fake news sobre a pandemia, representa um virtual divisor de águas, Nada será igual para Bolsonaro, daqui para a frente. Inclusive, não mais poderá ameaçar com o uso de “seu” Exército caso não se atendam os seus desejos ... Convém lembrar aqui que, embora noticiada a divulgação de uma nota explicativa por parte do Cmandante do EB a respeito (“Para não irritar Bolsonaro, Exército planeja dar esclarecimentos sobre vacinação”), após intermediação do gen Braga Netto, Ministro da Defesa, traduzindo o descontentamento do Planalto, ela acabou não ocorrendo (“.Generais blindam comandante do Exército e rejeitam abrir crise por diretriz sobre vacinação de militares”) ...
4 – “Lição de golpismo” – Oliver Stuenkel – Revista Piaui – 11 JAN
. “Um ano após a invasão ao Capitólio, Trump se fortalece e ensina a Bolsonaro que a radicalização às vezes compensa. A invasão ao Capitólio foi a gota d’água. Depois que trumpistas fanáticos atacaram o Congresso americano, … analistas respeitáveis de esquerda e de direita concordaram que o então presidente havia ido longe demais. ‘Ele ferrou os próprios apoiadores, ferrou o país e agora ferrou a si mesmo’. … Pedidos e alertas para que se afastasse do cargo atingiam Trump por todos os lados. … Ledo engano. Um ano após os confrontos que causaram cinco mortes diretas, além de suicídios posteriores … Trump está mais forte do que nunca. … o fato de ele não ter aceitado o resultado das urnas e, em vez disso, ter mobilizado seus seguidores mais extremistas foi crucial para consolidar a narrativa de que as eleições de 2020 teriam sido fraudadas. Trata-se de um discurso furado, mas um elemento fundamental para entender os nossos tempos é perceber que palavras vazias têm um peso estrondoso. Até hoje, três quartos do eleitorado republicano acreditam que Biden ocupa a Casa Branca de forma ilegítima. … Nem a publicação de relatos detalhados sobre o papel decisivo de Trump na orquestração dos ataques parecem afetar a imagem do partido, que deve retomar o controle do Congresso e do Senado nos midterms de novembro. Uma vitória dessa magnitude após um golpe que todos consideravam fatal pode servir de tapete vermelho para um retorno triunfal à Casa Branca. … Motivo de chacota e vergonha há apenas doze meses, o trumpismo alcançou uma redenção tão rápida e vigorosa que analistas do mundo inteiro assistem a esse processo atentamente. Ainda assim, mesmo o acadêmico mais obstinado não estuda os passos de Trump com tanto afinco quanto a família Bolsonaro. Admiradores de Trump … Jair e seus filhos notam com esperança como saiu barato para o ex-presidente americano não ter condenado a invasão ao Congresso, tampouco assumido sua parcela de culpa pelo episódio. … Visto como uma cegueira estratégica … o fato de os Bolsonaro terem prejudicado a relação do Brasil com os Estados Unidos e se negado a reconhecer a vitória de Biden começa a soar estranhamente racional. … O motivo certamente não é uma moral elevada, mas o fato de que as ações de Trump no pós-Capitólio seriam um verdadeiro estudo de caso para que os Bolsonaro soubessem até onde poderiam ir – isto é, até que ponto poderiam esgarçar o tecido democrático impunemente [grifei]. … A crescente obsessão do presidente brasileiro por cooptar as Forças Armadas, por exemplo, pode partir da constatação de que a posição dos fardados americanos foi decisiva para o fracasso do golpe [grifei]. A insistência em posicionamentos anticientíficos sobre a pandemia, mesmo em assuntos que unem o polarizado eleitor brasileiro, como é o caso da vacinação infantil, pode ser fruto da constatação de que ser consistente em seus erros gerou lucros inesperados para Trump … Acima de tudo, o caso americano cria incentivos perigosos para que Bolsonaro tente reproduzir no Brasil os eventos do dia 6 de janeiro de 2021. Afinal, há poucos indícios de que Trump terá de pagar pelo episódio, e milhares de eleitores republicanos continuam achando que os invasores do Congresso não eram vândalos buscando impedir uma transição legítima de poder, e sim eleitores injustiçados por um sistema corrupto. A despeito do fracasso e do choque inicial, os ataques ao Legislativo fortaleceram a narrativa trumpista. Isso atiça as esperanças bolsonaristas de que, caso sofram uma derrota nas urnas e arrisquem um golpe, o pior que pode acontecer é saírem mais fortes e amargarem alguns anos no banco de reservas. … a ideia de que [Bolsonaro] possa aceitar uma derrota eleitoral e garantir a transição pacífica de poder está basicamente descartada. Abraçar a lenda de uma ‘grande fraude’ eleitoral é crucial tanto para evitar a imagem de fracassado quanto para manter sua hegemonia no campo da direita. … a grande lição do renascimento trumpista é de que o caminho mais seguro para um aspirante a autocrata é dobrar a aposta e continuar se radicalizando cada vez mais [grifei]. Isso porque, uma vez atiçada, a base extremista raramente perdoa sinais de moderação por parte do líder.
O leitor encontra aqui uma explicação racional para os “desequilíbrios” de Bolsonaro e seus atos tresloucados. O que, a ser verdadeira, ainda o torna mais perigoso! Podem representar, infelizmente, movimentos estratégicos de uma pessoa sem escrúpulos, disposta a tudo para manter-se no poder – esse o grande perigo para as instituições brasileiras. O leitor duvida que Bolsonaro tenha capacidade intelectual para tal? Eu também, mas não deve ser esquecido que ele representa agora um papel-chave para a Nova Direita Internacional, que é quem pode estar por trás de tudo,”soprando”, a cada passo, qual o papel que o fantoche deve desempenhar .. (Stuekel é professor de Relações Internacionais da FGV em São Paulo).
5 – “Afastamento de militares de Bolsonaro é sinalização a Lula” Igor Gilow – Folha de São Paulo – 15 JAN.
“Os recentes episódios em que as Forças Armadas demonstraram distanciamento do … Bolsonaro são ao mesmo tempo sinalização de posição e aceno a outros candidatos na disputa presidencial, … Lula a frente. Segundo a Folha ouviu de oficiais generais das três Forças, apesar de a interlocução com o petista ser basicamente inexistente neste momento, os eventos falariam por si e serviriam para tirar o bode de um golpe militar contra Lula em caso de vitória em outubro. Nestas duas últimas semanas, alguns fatos se colocaram na sempre espinhosa relação entre os militares e Bolsonaro, a saber:
1 O Exército determinou que os 67 exercícios … programados para o ano fossem encerrados até setembro para liberar a tropa no caso de haver violência eleitoral ou, ainda pior, algum cenário ao estilo Capitólio dos Estados Unidos.
2 – A mesma Força lançou diretrizes no trato …da pandemia que vão contra o negacionismo preconizado por Bolsonaro, em particular criminalizando a divulgação de fake news, tão ao gosto do bolsonarismo, o que causou ruido no Planalto.
3 – O Diretor Presidente da Anvisa Almirante … Barra Torres, divulgou uma duríssima nota chamando o presidente à responsabilidade por ter acusado o órgão de ter interesses escusos na vacinação de crianças, que Bolsonaro critica. O conjunto de eventos, dizem fardados em altos postos do serviço ativo estabeleceu … no ano eleitoral uma linha divisória entre a balbúrdia presidencial e as Forças. … Os atos foram necessários já que, do ponto de vista de imagem, o caráter militar do governo Bolsonaro causa justificada apreensão da esquerda à direita. O foco é, claro, Lula, O petista até tentou estabelecer uma ponte com os fardados no ano passado mas não foi bem sucedido, Há entre os fardados um sentimento refratário ao petista devido ao que consideram leniência com a corrupção, tanto que a candidatura de … Moro … levantou interesse em setores fardados. Por outro lado, na cúpula, há o pragmatismo de que hoje Lula é o favorito para vencer a eleição. …De todo modo, todos os ouvidos lembram o que chamam de tempos de vacas gordas sob Lula … [quando ocorreu] o reaparelhamento das Forças com programas como o de submarinos, de caças e de blindados.
www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/afastamento-de-militares-de-bolsonaro-e-sinalizacao-a-lula.shtml
Diria que as coisas andam favoráveis a Lula no que respeita a uma aproximação com os militares, mesmo porque, abstraídos preconceitos ideológicos – de resto infundados – os governos lulistas despertam boas lembranças em termos de reaparelhamento das Forças. Ademais, no meu entendimento, caso adotem posição de antagonismo em relação a candidato que goza e provavelmente continuará desfrutando de amplo favoritismo popular, isso redundará em abalo notável ao seu prestígio que já sofreu arranhões visíveis pela participação maciça no governo Bolsonaro (Pazuelo a “expressão” mais notável a ser lembrada) e pelas pressões exercidas contra Lula no período que antecedeu sua prisão, injusta, por sinal. (Exemplo mais notável, a pressão do então Comandante do EB – Villas Boas sobre o STF quando do julgamento do habeas corpus que beneficiaria Lula). Afinal, a prisão do ex-presidente por 580 dias teve ali sua gênese.