Nº 61

Apresentação do nº 61

Caros leitores,                  
Tem toda razão quem afirmou que o Brasil não é para amadores. No último Desmonte apresentei algumas considerações sobre a possibilidade de  impeachment de Bolsonaro ou de um autogolpe seu. Leio agora um depoimento muito importante do antropólogo  Piero Leirner que lança novas e perturbadoras luzes sobre o assunto  e sobre a própria eleição do “Mito”. Em consequência, aceitas as novas informações, mudam de aspecto algumas das considerações que coloquei no papel, naquele Desmonte. O leitor encontrará na notícia nº 5 reproduzida no anexo  ("Projeto Bolsonaro - presidente foi construção de generais”) um resumo da matéria. Mas importa  muito ler na integra a entrevista completa concedida pelo Leirner, estudioso de assuntos militares  há 30 anos, em   https://youtu.be/mDpYdnPYjMc (ou a assista pela TV).  Longa mas muito esclarecedora.

Em resumo, com base no livro  escrito pelo gen. Villas Bôas (“General Villas Bôas: conversa com o  comandante”)  e em suas próprias pesquisas, Leirner afirma  que a escolha de Bolsonaro para Presidente não foi ato fortuito,  decidido em 2018, mas  o resultado de um projeto acalentado há muitos anos que incluiu –  certamente  com o beneplácito do Alto Comando de Exército  – o comparecimento de Bolsonaro e seu  proselitismo  em vários anos consecutivos às  cerimônias   na Aman, a partir de 2014,  já incorporando o papel de “salvador da Pátria”.

No livro escrito por Villas Bôas, ele indica (confessa?) que o rascunho do tuite divulgado às vésperas do julgamento do habeas corpus do Lula, foi por ele inicialmente redigido em termos muito mais incisivos dos que os que vieram a lume,  fruto de reunião do Alto Comando do Exército que se prolongou por várias horas. (Em suas palavras: “Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das  20 horas”). A conclusão óbvia é que a nota não resultou de iniciativa pessoal do Comandante do EB mas representou a posição sedimentada de toda a Instituição  uma clara   intervenção anticonstitucional do Exército em  decisão exclusiva do Poder Judiciário.  Assumindo explícita posição partidária,  o EB   passou a agir como ator político privilegiado, pelo poder de suas armas. Aliás, um dos argumentos esgrimidos para dar maior eficácia aos tuites de Villas Boas teria sido  exatamente a ameaça junto ao STF de que dispunha de 300 mil soldados atrás de si . Lembra-se  que,  com tal nota, divulgada no dia 3 abril de 2018,  o Supremo acabou por rejeitar o HC (maneira extremante diplomática de  indicar-se o que realmente parece ter ocorrido), que certamente  seria concedido, caso prevalecesse o texto constitucional. Com isso,  afastou-se Lula, o candidato favorito,  da disputa eleitoral e ficou  limpo o terreno para a vitória de Bolsonaro.

Ainda com base principal no livro de Villas Bôas, Leirner nos indica que ocorreu uma explícita  politização no EB  já  no  governo Lula.  Assumindo-se como verdadeiras as indicações do antropólogo, o  projeto Bolsonaro presidente “foi uma construção de generais da ativa e reserva que se efetivou a partir de 2014 e teve o aval de todos que  passaram pelo Alto Comando desde então. Toda a narrativa  de  generais que se aproximaram  de Bolsonaro é a de que ele foi um acidente que aconteceu em 2018. Mas isso é uma ‘operação de dissimulação’, para usar a linguagem deles. ...   Em 2019, o general Rêgo Barros afirmou que ‘[coube ao Exército]  mergulhar de cabeça no ‘submundo' das mídias sociais  Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Portal Responsivo, Eblog etc.  e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil’".

No contexto  se  inserem os graves fatos indicados  em outro livro, esse escrito pelo Michel Temer (A Escolha - como um presidente conseguiu superar grave crise e apresentar uma agenda para o Brasil”), De fato, conforme constante em sua obra,  Temer   então  vice-presidente,  participou de várias reuniões com o gen. Villas Bôas e o então CEME - gen. Sérgio Etchegoyen, entre 2015 e 2016, onde se cogitou o afastamento da presidente eleita legitimamente Dilma Roussef. Como é óbvio, com  tal procedimento, os dois mais altos chefes do Exército cometeram ato de séria deslealdade para com  a Comandante suprema das FFAA ao  concordarem  em participar de  iniciativa que atentava contra a Constituição. (Observação: Temer nomeou Etchegoyen como ministro-chefe do Gabinete de Segurança, em seu governo).

Como todos devem recordar-se, a   publicação do livro de Villas Bôas, deu origem a uma   (breve) crise Executivo x Judiciário, criada  após a divulgação de  nota do min. Fachin afirmando que uma pressão militar contra o STF é ato gravíssimo e atenta contra a ordem constitucional  e ante a irônica  réplica recebida do general,  indagando porque a preocupação  do ministro só  ocorreu  três anos após o evento (no que se há de  convir, há uma  dose de razão ...). A crise foi  rapidamente  esvaziada pelo  Ministro da Defesa  gen. Fernando Azevedo  que, em gestão patética junto  ao presidente do STF  – min. Fux, declarou que,  contrariamente ao afirmado por Villas Bôas, a nota foi iniciativa pessoal dele, sem participação colegiada. (Devemos acreditar no  gen. Lourenço que nos indica  que Villas Bôas faltou com a verdade??).

A prevalecerem os fatos acima indicados, infelizmente nosso Exército passará à História ainda com maior responsabilidade por  ter possibilitado, por decidida e continuada ação política, a posse de um presidente tresloucado que tanto mal vem causando ao País. E isto se constituiria um grave Desmonte da hierarquia militar e de nossos princípios democráticos.

Como se não fosse pouco,  ao final do mês de fevereiro, surge nova crise  – a da substituição do presidente da Petrobras  adicionando mais uma pitada  à vertente econômica das  dificuldades  crescentes que nos  rodeiam, criadas em larga   medida pelo próprio governo Bolsonaro.

 Ao final deste Desmonte, uma nota  triste e deprimente: estamos caminhando para sério agravamento do Covid-19 no País. Até o próprio Ministério da Saúde já menciona a possibilidade de três mil óbitos por dia, em futuro próximo. Caso tal ocorra, estaremos à beira do caos social, com consequências imprevisíveis. Temos a nosso desfavor a incompetência de Bolsonaro e do general intendente logístico da ativa escolhido por ele para gerir a pasta mais importante na conjuntura. Ou não? Ou tudo não passa  de “frescura e  mimimi”?

Aos amigos leitores, o  mais cordial abraço do

Luiz Philippe da Costa Fernandes

ARTIGOS SELECIONADOS PARA O DESMONTE Nº  61

1 – “Pilulas de um governo patético!” – título meu –   datas diversas.

 – “Militares se desgastaram muito no 1º ano do governo Bolsonaro, diz cientista político João Roberto Martins Filho” – 11 JAN.  
“’Gostaria de acreditar que, 35 anos depois (do fim do governo militar), teríamos uma corrente democrática nas Forças Armadas que percebesse os danos que podem vir dessa associação com a política partidária. Mas não vejo isso’, diz o pesquisador. Para ele, neste primeiro ano de forte presença militar no governo, ficou evidente a influência de fatores como corporativismo, conservadorismo e ideologia no comportamento das Forças Armadas”.

“General Ramos diz que militares ‘entendem’ aliança de Bolsonaro com o Centrão”. ”  –   10 FEV.
“Não me envergonho’”, disse ele ao Estadão, acrescentando que militares “entendem” a aproximação. … Como mostrou o Estadão, o gabinete de Ramos se transformou em ‘QG’ das campanhas do deputado Arthur Lira (PP-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – no local, conforme parlamentares, eram acertados verbas e cargos. Cerca de R$ 3 bilhões em verba”.

Será que todos entendem, mesmo?...

Frase  de Bolsonaro pronunciada em cerimônia militar: Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria esse o regime que nós estaríamos vivendo”. Ainda acrescentou que  que, “apesar de tudo”, representa a democracia no Brasil. – 20 FEV  

 Ele só pensa “naquilo” ...    

,Wagner e petroleiros ingressam com ação contra venda subfaturada de refinaria na Bahia”  – 21 FEV.
…  estudo de valuation do INEEP …  mostra que o valor de mercado da RLAM estaria entre 17 e 21 bilhões de reais. Já o BTG Pactual estipula uma venda 35% (5 bilhões) abaixo do mercado, o que daria à Refinaria um valor de aproximadamente 13,9 bilhões de reais. Entretanto, a Petrobras vende a RLAM por aproximadamente 8,9 bilhões de reais. … Vale lembrar que a Petrobras ainda pretende privatizar sete refinarias, e faz-se urgente um recado dos trabalhadores da Companhia de que não aceitarão que seus bens sejam entregues por valores irrisórios”. 

– “A nova chantagem do ministro para levar adiante o desmonte do Estado, por Lauro Veiga Filho” –  21 FEV.
“… [Guedes]  com sua chantagem explícita .. [pretende]  Desindexar todos os gastos, desvincular todas as despesas, liberar integralmente o orçamento à sanha dos que mais podem na disputa pelos recursos federais, levando adiante o projeto de desmonte do Estado. Seus argumentos são pífios … Diz o ministro que, sem a indexação (quer dizer, sem a obrigatoriedade de correção com base na inflação de algumas classes de despesas, para a saúde e educação), o Congresso poderia conceder aumentos maiores para gastos com saúde ou para a educação, por exemplo, acima mesmo da inflação. …. O ministro que tem segurado as despesas para compra de vacinas e deixou de gastar pouco mais de R$ 80,0 bilhões dos créditos extraordinários abertos no ano passado para enfrentar a pandemia iria de fato elevar o orçamento da saúde, da educação, da pesquisa científica e tecnológica? … A desvinculação extinguiria o piso de gastos fixado pela Constituição para favorecer a saúde e a educação, além da pesquisa científica e tecnológica. Sem a necessidade de cumprir esses limites, …  o ministro poderá cortar ou desviar esses recursos para outras áreas, atendendo a demandas outras de parlamentares e grupos de pressão.”

 -“Dias Toffoli afirma que houve financiamento internacional a campanhas contra instituições”  – 22 FEV.
“…Dias Toffoli, disse que o inquérito das fake news identificou que houve financiamento internacional a atores que usam as redes sociais para fazer campanhas contra as instituições brasileiras.”         

Isso é muito sério!                   

Lula: “O golpe foi feito para mudar o modelo de exploração do petróleo no Brasil” – 24 FEV.
“’ … nós acreditávamos que a Petrobrás seria um passaporte para o futuro. E eles assenhoraram da Petrobras para obedecer aos acionistas de Nova York. A Petrobrás virou exportadora de óleo cru e importadora de derivados. Subordinaram ela ao mercado internacional’ …”.                     

Compartilho a opinião de Lula! A Petrobras, melhor dizendo, o pré-sal  seria o passaporte para um Brasil grande!            

2 – “Sob Pazuello, presença de militares na Saúde saltou de 2,7% para 7,3%” – Jornal GGN  – 06 FEV.
“As equipes do senador Alessandro Vieira …  e da deputada federal Tabata Amaral … elaboraram um infográfico sobre  a evolução da presença de militares em cargos do governo federal. Os dados vão desde janeiro de 2013 até setembro de 2020. Pelas informações é possível notar que a presença de membros das Forças Armadas no Ministério da Saúde deu um salto com a nomeação do general Eduardo Pazuello para o comando da pasta. Em abril, último mês antes de Pazuello assumir o ministério, eles correspondiam a 2,7%. Já em setembro, com quatro meses da gestão de Pazuello, a presença passou a ser de 7,3%. … [Título do infográfico, não reproduzido: “Militares ativos e inativos em cargos de natureza especial e em funções DAS, FCPE e CGE de nível alto”]. . …  Na Presidência, o contingente saltou, de 2013 a 2020, de 2,6% para 15,1% do total de comissionados. …   Os dados são do Portal da Transparência.

https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/militares-governo-tabata-alessandro/

Em tese, compreende-se o interesse do governo em “mobiliar” certos setores com pessoal de gabarito e experiência administrativa. O que preocupa, no caso, é o grande número  de militares diretamente envolvidos com um governo destrambelhado, o que afeta a reputação das FFAA. Tal número varia segundo a fonte . Pelo TCU (jul 2020) atingiria mais de 6,1 mil militares; pelo site Poder 360, com base na Lei de Acesso à Informação, chega a 8.450.  

3 – “Para promover farra da cloroquina, Bolsonaro usou cinco ministérios, estatal, conselhos, Exército e Aeronáutica24706 FEV.
A reportagem [ jornal Folha de São Paulo] identificou dezenas de atos oficiais, todos eles públicos, adotados nas mais diferentes esferas de governo para garantir a circulação de cloroquina e hidroxicloroquina. Distribuir o medicamento virou uma política de governo, com atos dos Ministérios da Saúde, Defesa, Economia, Relações Exteriores e Ciência e Tecnologia. Envolve desde a orientação técnica para o uso até o fornecimento final da substância, passando por isenções de impostos e facilitações na circulação do produto.

 https://www.brasil247.com/brasil/para-promover-farra-da-cloroquina-bolsonaro-usou-cinco-ministerios-estatal-conselhos-exercito-e-aeronautica

Juristas e pessoas categorizadas ligadas à Justiça consideram inexorável que as autoridades diretamente responsáveis – leia-se pelo menos Bolsonaro e Pazuello – venham a responder criminalmente por seus atos. 

A propósito, “O escritório da procuradoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) informou à Comissão Arns e ao Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu) que a corte está analisando a denúncia feita pelas duas entidades, em  novembro de 2019, na qual acusam o presidente da República Jair Bolsonaro de incitar o genocídio e promover ataques sistemáticos contra os povos indígenas do Brasil” (https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/tribunal-penal-internacional-de-haia-aceita-denuncia-contra-jair-bolsonaro1  )

4 – “As Forças Armadas estão no aparelho de Estado e não estão dispostas a sair em 2022’. afirma José Genoino”  –247 – 12 FEV.
“De acordo com Genoino, o porão das Forças Armadas atuou para colocar o revanchismo no poder, com o mote de que ‘contra o PT e a esquerda tudo vale’. Para ele, é decisivo recolocar as Forças Armadas debaixo do poder civil e eliminar a ideia de lei e ordem e de tutela. “… ‘O golpe de 2016, a prisão do Lula e a eleição manipulada produziram um novo modelo de regime político baseado em três elementos centrais: a tutela militar, o papel da mídia corporativa e os monopólios midiáticos e o sistema de Justiça, especificamente o lawfare, da criminalização da política’, analisou o político. … ‘a eleição de Jair Bolsonaro é parte de uma estratégia dos militares para retornarem ao poder sem a necessidade de um novo golpe, como o que ocorreu em 1964. A eleição do capitão só foi viável por causa das Forças Armadas, particularmente do Exército. Aí há um matrimônio inseparável. Seu governo depende desta tutela. Isso vem da campanha de 2018, veja a intervenção no Rio de Janeiro, a campanha eleitoral, a maneira como se desenvolveu a campanha, a maneira como se montou o governo, e eu acho que ele representou a possibilidade dos militares voltarem ao exercício do poder sem a necessidade de uma interrupção abrupta do ponto de vista militar e político. Essa ideia de que vem um golpe, de que vem uma crise de natureza militar acho que é uma visão que não corresponde’, disse.”

https://www.brasil247.com/poder/as-forcas-armadas-estao-no-aparelho-de-estado-e-nao-estao-dispostas-a-sair-em-2022-afirma-jose-genoino

Ex-presidente do PT,  não se pode dizer que Genoino não tenha visão e experiência políticas. Pela sua avaliação. não faz sentido cogitar-se de um autogolpe de Bolsonaro se e quando sentir-se acuado politicamente, ou no caso de uma e derrota nas eleições de 2022,  uma vez que qualquer rompimento das normas constitucionais só ocorreria com o beneplácito e a participação das FFAA ,melhor dizendo, do EB. As recentes declarações do gen Villas Bôas de que os seus tuites ameaçando o STF teriam sido aprovados previamente pelo Alto comando do Exército e e o reconhecimento explicito   de Bolsonaro ao Villas Boas, quando de sua posse (General Villas Boas, o que já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui’) parecem apoiar a opinião de Genoino. A propósito, que conversa foi  essa tão misteriosa que “morreu” naquela ocasião?) A rigor, também permite configurar, sob novo enfoque, a maciça presença de militares em rios setores do governo: uma simbiose de um governo quase-militar, mantidas todas as aparências... 
(Ver também
Villas Bôas revela atuação política do Exército que culminou na eleição de Bolsonaro” – https://www.brasildefato.com.br/2021/02/10/villas-boas-revela-atuacao-politica-do-exercito-que-culminou-na-eleicao-de-bolsonaro

 5 – “Projeto Bolsonaro presidente foi construção de generais” –  Carta Capital – 18 FEV.
“Para o antropólogo [Piero Leirner] [que pesquisa o meio militar há 30 anos, o livro de memórias do general Villas Bôas explicita politização do Exército iniciada durante o governo Lula e o endosso do Alto Comando à candidatura de Bolsonaro. … Quase três anos após um tuíte direcionado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na véspera do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o general Eduardo Villas Bôas revelou que o posicionamento foi redigido em conjunto com o Alto Comando do Exército. A informação, extraída de seu livro de memórias recém-publicado, provocou intensa repercussão nos últimos dias. …  A recente confissão de Villas Bôas,  comandante do Exército entre 2015 e 2019, motivou o repúdio do ministro do STF Edson Fachin, relator do pedido de habeas corpus de Lula na ocasião. Na segunda-feira (15/02), ele afirmou que a postura de pressionar o Poder Judiciário, se confirmada, “é gravíssima e atenta contra a ordem constitucional”. ,,, Leirner identificou um movimento claro de politização do Exército iniciado em 2007, reagindo à homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e intensificado em 2010, quando Lula enviou ao Congresso o projeto de lei que criaria a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Na avaliação de Leirner, … Villas Bôas teve papel decisivo nessa guinada, ao alimentar a politização das tropas enquanto mantinha um discurso legalista em público. … Leirner …  afirma que a preocupação dos militares com a soberania da Amazônia serve a um propósito político e tem base exclusivamente retórica, uma vez que é acompanhada por uma postura de indiferença sobre a presença de mineradoras estrangeiras na região. Para o pesquisador, é nítido que o projeto presidencial de Jair Bolsonaro teve endosso consensual dos generais em posição de comando … Fazer campanha dentro de uma Academia Militar, além de ilegal, só pode ser obra de um consenso”, avalia. O projeto Bolsonaro presidente foi uma construção de generais da ativa e reserva que se efetivou a partir de 2014 e teve o aval de todos que  passaram pelo Alto Comando desde então. . … Toda a narrativa de generais que se aproximaram de Bolsonaro é a de que ele foi um acidente que aconteceu em 2018. Mas isso é uma “operação de dissimulação”, para usar a linguagem deles.”

  https://www.dw.com/pt-br/projeto-bolsonaro-presidente-foi-construção-de-generais/a-56614896

Esta matéria foi desdobrada e constituiu-se o objeto principal do encaminhamento deste Desmonte.

6  –  “O decreto das armas é a preparação de um golpe”  – Paulo Pimenta  – 247 – 19 FEV.
“O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) comentou ,,, os decretos editados por Jair Bolsonaro que flexibilizam o comércio de armas e munições no Brasil. Segundo o parlamentar, a medida é a preparação de um golpe. ‘Essa decisão de aprofundar a questão das armas é, na prática, uma maneira de preparar sua base social para uma eventual ruptura institucional. Conversei com várias pessoas, todas elas entendem que esses decretos configuram a mais grave decisão do governo para colocar em risco a ordem democrática do país’, afirmou. Pimenta esclareceu que os decretos afrouxam a fiscalização das armas de fogo e munições por parte do Exército e da Polícia Federal, além de ampliar o arsenal permitido a cada cidadão e flexibilizar as regras para a produção de balas. ‘Esses caçadores, atiradores e colecionadores hoje têm que se registrar no Exército. …  Ele está terminando com isso. Não haverá mais necessidade de registro. Então o Exército não vai mais ter a informação sobre o arsenal que a pessoa tem, só se for mais de 60. E o cidadão comum, esse a Polícia Federal tem que ter registrado.  Ele também está acabando com isso. Hoje são seis armas e vão passar a ser oito. Com esse decreto, ele também está mudando a possibilidade da questão de produção de munição. Hoje, para comprar os insumos necessários para fazer a munição tem que ter registro. Ele está acabando com esse registro’. Para o deputado, a ampliação do número de armas em circulação do país facilitará o armamento de milícias e organizações criminosas, o que, de acordo com o parlamentar, já faz parte do plano de Bolsonaro para um eventual golpe no país….  Boa parte das armas que estão nas mãos dos criminosos são armas que foram de policiais militares, de policiais civis que em determinado momento foram furtadas. Imagina um cara com 60 armas. Vão assaltar a casa e vão levar 40 armas. Na prática, estamos … criando no Brasil uma milícia armada com o benefício de estar sob o manto da legalidade. Isso é muito grave’”.

 https://www.brasil247.com/regionais/sul/o-decreto-das-armas-e-a-preparacao-de-um-golpe-diz-paulo-pimenta

 Concordo com  o risco que representam tais decretos, conforme indicado. Sob o ponto de vista da defesa pessoal, tão valorizado pelos bolsonaristas, só vejo uma vantagem: a possibilidade de alvejarmos oito vezes um eventual assaltante, cada tiro com arma  diferente ... Muito estimaria que fossem deixadas de lado, no caso, eventuais diferenças partidárias e fosse valorizada a preocupação com a Sociedade e seus valores democráticos. O assunto é considerado tão importante que  Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública e da Defesa do governo  Temer, enviou  uma carta aberta  (dia 21 FEV) ao Supremo Tribunal Federal afirmando que “a política armamentista do presidente Jair Bolsonaro pode gerar uma guerra civil no Brasil e fazer com que o país repita cenas como a da invasão do Capitólio norte-americano na eleição de 2022” (https://www.conjur.com.br/2021-fev-21/armamentismo-bolsonaro-gerar-guerra-civil-ex-ministro )

7 – “A confissão do general, o governo dos militares e a derrota do chanceler” –José Luís Fiori  – GGN – 21 FEV.
“Com a confissão pública de uma das partes, …  só pessoas menos informadas podem seguir negando o envolvimento direto dos militares brasileiros na operação jurídica e midiática, nacional e internacional, que bloqueou a candidatura e prendeu o ex-presidente Luiz Inácio da Silva em 2018, instalando em seguida, na Presidência da República, um indivíduo que faz que governa o país há dois anos, em meio aos escombros de uma administração calamitosa. Essa conspiração foi ficando cada vez mais transparente com a divulgação das conversas gravadas …  entre os juízes e procuradores de Curitiba”,  apesar de que isto não fosse uma surpresa para os analistas mais atentos que já haviam diagnosticado há muito tempo o verdadeiro papel dos “curitibanos”. Mas agora as coisas mudaram de patamar, com a divulgação da entrevista do Gal Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército ao tempo da “operação Bolsonaro” … Na entrevista, o general explica com suas próprias palavras seu papel e o de seus oficiais do Alto Comando do Exército, na redação e divulgação da sua famosa postagem nas redes sociais, do dia 3 de abril de 2018, em que ele pressiona explicitamente o Supremo Tribunal Federal a não aceitar o habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Lula. …Deixa claro e explícito que atuou como Comandante em Chefe de uma instituição do Estado, com apoio de sua alta oficialidade, ao fazer uma intervenção anticonstitucional … E não há dúvida de que a divulgação, neste momento, dessa entrevista também tem a função política de advertir os atuais comandantes das FFAA, de que não tentem lavar as mãos e se afastar do governo. … O presidente não consegue formular uma ideia que tenha início, meio e fim, e parece que tampouco consegue dizer uma frase que não tenha inúmeros “palavrões” e obscenidades; e seu ministro da Saúde não sabe onde fica o Hemisfério Norte, não conhecia o SUS, e ainda não conseguiu entender o que seja uma pandemia, ou ter alguma ideia de como planejar uma campanha nacional de vacinação.  … a maior derrota do governo atual … não foi obra direta de nenhum a desses militares e veio do campo da política internacional, sob responsabilidade de um homem do Itamaraty…. o atual chanceler vê o mundo contemporâneo como uma grande batalha final e apocalíptica entre a civilização judaico-cristã e as demais e “forças do mal” ao redor do mundo, tendo os chineses à frente de todos. … A catástrofe administrativo deste governo de militares, e o fracasso de sua política externa sugerem com insistência que qualquer negociação a respeito do futuro do país deveria começar por dois pontos fundamentais: o primeiro, seria a devolução  dos militares aos seus quartéis e funções constitucionais, …  e o segundo, seria colocar uma pá de cal em cima da vergonhosa política externa deste governo, começando por um novo tipo de relacionamento com os Estados Unidos, sem fanfarronice nem arrogância, mas com altivez soberana  e sem nenhum tipo de vassalagem, diplomática, jurídico ou militar.”

https://jornalggn.com.br/artigos/a-confissao-do-general-o-governo-dos-militares-e-a-derrota-do-chanceler-por-jose-luis-fiori/#_ftn3

Sempre vale a pena ler as avaliações de Fiori, com as quais costumo concordar quase totalmente.

 

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